Economia

EUA monitoram Pix desde 2022 e abrem investigação sobre impactos no comércio

Governo norte-americano cita possível prejuízo a empresas dos EUA; sistema brasileiro já movimenta trilhões por ano

Foto: Bruno Peres/ABR - 


Brasília - O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o Pix, está sob monitoramento das autoridades norte-americanas desde pelo menos 2022. Segundo documentos do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), o governo dos EUA acompanha os desdobramentos da plataforma por entender que ela pode impactar diretamente empresas e tecnologias norte-americanas.

Em relatório anual publicado em 2022, o USTR destacou preocupação com a atuação do Banco Central (BC) como regulador e operador do Pix, o que, segundo a agência, pode gerar condições desiguais de concorrência. “Os Estados Unidos estão monitorando de perto os desenvolvimentos relacionados ao mercado de pagamentos eletrônicos de varejo no Brasil para garantir que o Banco Central brasileiro facilite condições equitativas para todos os participantes do mercado”, afirma o texto, que classifica o Pix como potencial barreira comercial estrangeira.

Na quinta-feira (17), o USTR anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil, atendendo a uma solicitação do presidente Donald Trump. Segundo o chefe da agência, Jamieson Greer, o objetivo é apurar “ataques do Brasil às empresas de mídia social americanas, bem como outras práticas comerciais desleais que prejudicam empresas, trabalhadores, agricultores e inovações tecnológicas” dos Estados Unidos.

Pix incomoda gigantes americanas

A iniciativa do governo dos EUA está relacionada, segundo analistas, à concorrência que o Pix representa para operadoras tradicionais de cartão de crédito e sistemas privados de pagamento, como o WhatsApp Pay, da Meta. De caráter público, gratuito e com ampla adesão da população, o Pix tem sido apontado como fator de inclusão bancária e inovação no sistema financeiro brasileiro.

De acordo com dados do Banco Central, em 2024 o Pix movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões. Para a economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, o sucesso da ferramenta se deve à eficiência e ao seu caráter democrático:

“O Pix é ágil, promoveu bancarização e faz parte da lei de competência e concorrência oferecer um produto cada vez melhor”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.

O atrito entre os sistemas se agravou em 2020, quando a Meta anunciou o WhatsApp Pay no Brasil, funcionalidade que permitiria envio e recebimento de dinheiro diretamente pelo aplicativo. Na ocasião, o BC e o Cade suspenderam o serviço, alegando necessidade de avaliação de riscos e proteção ao Sistema de Pagamentos Brasileiro.

“A função criada pelo WhatsApp escapava da regulação do Banco Central, o que fere regras brasileiras de acompanhamento de transações monetárias”, explicou Cristina Helena.

A suspensão teria afetado os planos de negócio da Meta, controlada por Mark Zuckerberg, que mantém proximidade com Donald Trump. Analistas avaliam que a recente movimentação de Washington pode refletir esse desconforto político e comercial com o avanço do Pix em um setor historicamente dominado por empresas americanas.

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