Jovens enfrentam maior risco de suicídio no Brasil, aponta estudo da Fiocruz
Informe destaca vulnerabilidade entre indígenas e alerta para falhas no atendimento em saúde mental
A população jovem apresenta hoje o maior risco de suicídio no país, segundo o 2º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A taxa média entre jovens é de trinta e um vírgula dois casos por cem mil habitantes, acima da taxa geral da população, de vinte e quatro vírgula sete. Entre homens jovens, o índice chega a trinta e seis vírgula oito.
O cenário é ainda mais crítico entre indígenas. A taxa nacional dessa população é de sessenta e dois vírgula sete suicídios por cem mil habitantes, a maior do país. Entre jovens indígenas do sexo masculino, de vinte a vinte e quatro anos, o índice sobe para cento e sete vírgula nove. Entre mulheres indígenas de quinze a dezenove anos, a taxa chega a quarenta e seis vírgula dois.
A pesquisadora Luciane Ferrareto afirma que fatores culturais, a exclusão social e a demora no atendimento agravam o quadro:
“Os indígenas têm mais acesso à informação, mas ainda enfrentam muito preconceito na sociedade.”
O informe analisa internações, mortalidade e atendimentos de jovens de quinze a vinte e nove anos entre vinte e dois e vinte e quatro, com base em registros do SUS e dados do Censo 2022.
Internações e abusos de substâncias
Homens jovens representam sessenta e um vírgula três por cento das internações por transtornos mentais. A taxa é de setecentos e oito vírgula quatro por cem mil habitantes, cinquenta e sete por cento maior que a das mulheres. Menos da metade dos jovens que se internam mantém acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
O abuso de substâncias psicoativas lidera as causas de internação masculina (trinta e oito vírgula quatro por cento). Em quase setenta por cento dos casos, há uso combinado de múltiplas drogas. Já entre mulheres, a depressão é a principal razão para internação.
Segundo a pesquisadora, o abuso de drogas entre homens jovens se relaciona à pressão por um ideal de masculinidade baseado em força e autossuficiência, além de instabilidade econômica e falta de oportunidades:
“A sensação de fracasso social leva muitos a recorrer às drogas como forma de escape”, observa.
Violência contra meninas e jovens mulheres
Entre mulheres, episódios de violência física e sexual na adolescência, geralmente cometidos por familiares, são fatores determinantes para o adoecimento emocional. Além disso, muitas deixam estudo e trabalho para desempenhar funções de cuidado na família, quadro agravado pela falta de políticas públicas de apoio, segundo Luciane.
Jovens mulheres também enfrentam relações abusivas, precarização do trabalho e assédio, fatores que aumentam o risco de adoecimento mental.
Jovens procuram menos atendimento
Apesar de serem os que mais sofrem com problemas de saúde mental, jovens procuram menos as unidades básicas de saúde. Apenas onze vírgula três por cento dos atendimentos dessa faixa etária em 2022-2024 foram voltados à saúde mental. Ainda assim, a taxa de internação para jovens chega a quinhentos e setenta e nove vírgula cinco casos por cem mil habitantes, acima do índice registrado em adultos com mais de trinta anos.
Segundo André Sobrinho, coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, há uma falsa expectativa social de que os jovens “aguemtem tudo”.
“Muitas vezes jovens, sociedade e Estado agem como se eles tivessem que suportar qualquer coisa exatamente por serem jovens”, afirma.
Onde buscar ajuda
O Ministério da Saúde orienta que pessoas com ideação suicida procurem apoio imediato. Falar com alguém de confiança é recomendado como primeiro passo.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188, além de chat, e-mail e VoIP, todos os dias, 24 horas.
Serviços que podem ser procurados:
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Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
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Unidades Básicas de Saúde
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UPA 24h, SAMU 192, Pronto Socorro e hospitais
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CVV – telefone 188
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