Exame de sangue mostra potencial para diagnóstico do Alzheimer, apontam cientistas brasileiros
Pesquisadores identificam alta precisão da proteína p-tau217 e veem possibilidade de uso no SUS para diagnóstico precoce da doença
Belo Horizonte – Pesquisadores brasileiros confirmaram o potencial de um exame de sangue para o diagnóstico do Alzheimer, abrindo caminho para uma alternativa mais simples e acessível de identificação da doença. O estudo, apoiado pelo Instituto Serrapilheira, mostrou que a proteína p-tau217 é o biomarcador mais promissor para distinguir pessoas saudáveis de pacientes com Alzheimer.
Os resultados foram publicados na revista Molecular Psychiatry e reforçados em uma revisão internacional divulgada em setembro, no Lancet Neurology. A pesquisa reúne 23 cientistas, sendo oito brasileiros, e analisou mais de 110 estudos envolvendo cerca de 30 mil pessoas.
Segundo Eduardo Zimmer, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos responsáveis pelo estudo, o p-tau217 apresentou desempenho superior a outros marcadores já utilizados, com confiabilidade acima de 90%, padrão considerado elevado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Quando pensamos num país continental como o Brasil, com 160 milhões de pessoas que dependem do SUS, é inviável fazer exames caros ou invasivos em larga escala. O teste de sangue pode mudar essa realidade”, afirmou Zimmer.
Alternativa mais simples e acessível
Atualmente, o diagnóstico da doença pode ser feito por exame de líquor, com punção lombar, ou tomografia, ambos de difícil acesso na rede pública. O novo exame, por outro lado, utiliza apenas uma amostra de sangue, o que facilitaria a detecção precoce do Alzheimer, especialmente em regiões com menos infraestrutura médica.
No Brasil, versões privadas do teste — como o PrecivityAD2, produzido nos Estados Unidos — já são oferecidas em laboratórios, mas custam até R$ 3,6 mil, valor que impede o uso em larga escala no país.

De acordo com Zimmer, a meta é levar a nova tecnologia ao Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, será necessário comprovar o desempenho do teste em diferentes populações e definir a logística para implementação. “Precisamos entender onde as análises serão feitas, quando o exame será utilizado e quais grupos serão beneficiados”, explicou.
Os resultados definitivos devem ser publicados em até dois anos. A próxima etapa da pesquisa incluirá pessoas a partir de 55 anos, faixa etária em que a doença começa a se desenvolver, mesmo antes do aparecimento dos sintomas.
Educação e envelhecimento cerebral
O estudo também reforça que baixa escolaridade é um dos principais fatores de risco para o declínio cognitivo. Segundo Zimmer, o nível educacional influencia diretamente na resistência do cérebro ao envelhecimento.
“A baixa escolaridade é o fator mais forte para o declínio cognitivo, mais até do que idade ou sexo. O cérebro exposto à educação formal cria mais conexões e fica mais resistente ao avanço da doença”, destacou o pesquisador.
Impacto global
De acordo com a OMS, cerca de 57 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência no mundo — e pelo menos 60% dos casos são de Alzheimer. No Brasil, o Relatório Nacional sobre Demência (2024) estima 1,8 milhão de pessoas com a doença, número que pode triplicar até 2050.
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