Professor de Harvard diz que Brasil foi mais firme que EUA ao enfrentar ameaça golpista
Steven Levitsky critica postura americana e afirma sentir vergonha das sanções impostas ao país

Brasília - O cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e autor do livro Como as democracias morrem, afirmou que as instituições brasileiras reagiram de forma mais contundente a uma tentativa de ruptura democrática do que as americanas.
Durante participação no seminário “Democracia em Perspectiva na América Latina e no Brasil”, no Senado, nesta terça-feira (12), Levitsky comparou a resposta do Brasil ao episódio de 8 de janeiro com a atuação dos Estados Unidos diante da invasão ao Capitólio, em 2021.
“O Supremo agiu para proteger a democracia de maneira assertiva. Já o Congresso e o Judiciário americanos falharam em conter o autoritarismo”, disse.
O professor classificou como “paradoxal” o fato de Washington aplicar sanções ao Brasil por medidas que, segundo ele, seriam necessárias para evitar retrocessos democráticos. Entre as ações citadas estão tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, uma investigação comercial e punições contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
“Como americano, isso me causa vergonha. Meu país está punindo o Brasil por fazer o que nós não fizemos”, afirmou.
Fragilidade sem memória
Na avaliação de Levitsky, a falta de experiência histórica com regimes autoritários torna a sociedade dos EUA menos preparada para enfrentar líderes com tendências autocráticas. Ele destacou que, ao contrário dos golpes militares do século passado, hoje as democracias se enfraquecem por meio de ações graduais de governantes eleitos, que buscam esvaziar instituições como o Congresso e o Judiciário.
Populismo e cenário latino-americano
O pesquisador apontou Jair Bolsonaro e Javier Milei como exemplos recentes de líderes populistas que testam os limites das regras democráticas. Apesar de crises econômicas, violência e escândalos de corrupção, ele considera que boa parte dos países da América Latina resistiu melhor do que se esperava.
Ainda assim, Levitsky alertou que o ambiente global é menos favorável à democracia do que nos anos 1990, e que as redes sociais têm ampliado a insatisfação com governos. Segundo ele, 28% da população latino-americana declara estar insatisfeita com o regime democrático.
Coalizões e vigilância
Para o professor, preservar a democracia exige respostas institucionais firmes e união de diferentes espectros políticos para impedir a ascensão de extremistas. Quando as instituições falham, afirmou, a sociedade civil precisa assumir a defesa pública das normas democráticas.
O evento também marcou o lançamento da coletânea Democracia Ontem, Hoje e Sempre, com quatro títulos sobre o golpe de 1964 e a redemocratização brasileira, reeditados pelo Conselho Editorial do Senado.
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