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Governo brasileiro reage a ataques de vice-secretário dos EUA ao STF e fala em ‘ofensa grave’

Itamaraty e Secretaria de Relações Institucionais repudiam declarações de Christopher Landau, que acusou ministro do Supremo de “usurpar poder”

Itamaraty
Itamaraty - Marcello Casal Jr / ABR - 

Brasília - O Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Relações Institucionais repudiaram neste sábado (9) as declarações do vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, contra o sistema judiciário brasileiro. Em publicação nas redes sociais, o diplomata acusou um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de “usurpar poder ditatorial ao ameaçar líderes dos outros poderes”.

Em nota, o Itamaraty classificou a declaração como “novo ataque frontal à soberania brasileira” e afirmou que o país “não se curvará a pressões, venham de onde vierem”. O ministério também destacou que essa foi a segunda manifestação hostil do governo norte-americano em apenas três dias. “O Governo brasileiro manifestou ontem [sexta-feira, 8] à embaixada dos Estados Unidos seu absoluto rechaço às reiteradas ingerências do governo norte-americano em assuntos internos do Brasil, e voltará a fazê-lo sempre que for atacado com falsidades como as da postagem de hoje [sábado, 9]”, disse a pasta.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também respondeu às declarações. Ela chamou a postura de Landau de “arrogante” e “gravíssima ofensa” ao Brasil, ao STF e à verdade. “Quem tentou usurpar o poder em nosso país foi Jair Bolsonaro. Quem está tentando destruir a relação histórica entre os dois países é a família Bolsonaro estimulando Donald Trump, com o tarifaço e sua chantagem contra o Judiciário brasileiro”, afirmou.

Gleisi reiterou que Executivo, Legislativo e Judiciário agiram de forma conjunta para barrar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. “Nenhum poder constitucional brasileiro encontra-se impotente. Ao contrário: rechaçaram o golpe, o motim bolsonarista pela anistia e as sanções violentas contra ministros do STF”, completou.

“Se querem mesmo ‘restaurar uma amizade histórica’, comecem por respeitar a soberania do Brasil, de nossas leis e Justiça, e parem de apoiar o golpista que tentou destruir nossa democracia", concluiu a ministra.

Landau, que ocupa o segundo posto mais alto do Departamento de Estado, também afirmou que a atuação de um ministro do STF teria “destruído a relação histórica” entre Brasil e EUA. O comentário foi publicado originalmente em inglês e traduzido para o português pela Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

A tensão diplomática se intensificou desde quinta-feira (7), quando a embaixada norte-americana divulgou, também traduzido, um comunicado do secretário de diplomacia pública Darren Beattie alertando aliados do ministro Alexandre de Moraes para “não apoiar nem facilitar” sua atuação. O texto ainda dizia que Washington “monitora a situação de perto” e acusava Moraes de “censura” e “perseguição” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os Estados Unidos aplicam sanções contra Moraes com base na Lei Magnitsky, mecanismo usado para punir supostas violações de direitos humanos e corrupção. O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros no mercado americano também foi justificado pelo governo Trump como resposta à atuação do STF em processos que envolvem Bolsonaro e no bloqueio de conteúdos e redes sociais no país.

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