Opinião

CAIADOPETISMO

A subalternização do PT estadual e federal ao coronelismo caiadista em Goiás

Belo Horizonte - A polarização política na escala federal, replicada, recorrentemente, entre os deputados conservadores Fred Rodrigues (DC) e Amauri Ribeiro (UB) e os progressistas Mauro Rubem (PT), Bia de Lima (PT) e, por vezes, também por Antônio Gomide (PT), nos pequenos expedientes do plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, como se os mesmos fossem deputados federais, na verdade, oculta a polarização regional entre o caiadismo e o anticoronelismo. Anterior à Revolução de 30 pelos tenentes e, por que não dizer, anterior a própria Proclamação da República pelos marechais, esta contenda deveria estar na ordem do dia, fazendo do antibolsonarismo um trampolim para o fortalecimento de Ronaldo Caiado como presidenciável, sobretudo, após o Supremo aprovar a inelegibilidade de Bolsonaro por 8 anos em junho de 2023. Como a esquerda em Goiás não se consolidou e apenas sobrevive no Estado mais antiesquerdista do país, talvez, não se sinta em condições psicopolíticas para realizar o bom combate do maior inimigo da pátria na atualidade: Ronaldo Caiado, clássica liderança latifundiária, cuja família tem feito uso filantrópico centenário da medicina para se manter no poder e, assim, conservar os seus domínios territoriais.

O rompimento formal do governador e médico Caiado com o capitão Bolsonaro no ápice da crise da gestão da pandemia por COVID-19, para além de motivado por razões médicas cabíveis, fora uma estratégia de marketing político surfista de Ronaldo para aproveitar o maremoto bolsonarista das eleições de 2018 e se eleger governador por Goiás, Estado que se tornou depois disso a principal base política do presidente Bolsonaro (e Caiado, o principal escudeiro do presidente), sem tomar caldo da onda antibolsonarista de 2022, sobretudo, no tocante, às questões de políticas públicas de saúde. 

O bom relacionamento do governo federal petista da gestão estadual caiadista -, o que já havia sido ensaiado na inauguração de trecho da Ferrovia Norte Sul em Rio Verde, em junho de 2023, em que a vinda de Lula fora cancelada, abruptamente, devido ao “mau tempo” (clima meteorológico e político, no caso, com os agropecuaristas pró-Bolsonaro) -, não decorre somente do fisiologismo para tentar conseguir governabilidade para o governo Lula, por meio do clientelismo político com o chamado “Centrão”. Na verdade, visto sob o prisma da história recente do PT em Goiás, é consequência de uma oposição truculenta contra a esquerda, o Movimento Sem-Terra e os Direitos Humanos e que, consegue, se impor pelo autoritarismo num Estado que parece andar na esteira, quando o assunto, é se afastar dos desígnios obtusos e autoritários da estirpe Caiado.

Ronado Caiado do UDR & Thelma Gomes do PT
Quem vê Caiado hoje, com certa serenidade e leveza, vendendo uma imagem de modernidade, mal sabe que ele há mais de 30 anos empreendia uma militância ruralista ferrenha durante a Constituinte, através da União Democrática Ruralista e Associação dos Criadores de Zebu, visando garantir na Constituição os privilégios fundiários dos terra-tenentes. Tal protagonismo, na verdade, estimulou o médico latifundiário a sonhar grande, no caso, com uma eleição para presidência em 1989, concorrendo pelo PSD, o que resultou numa votação pífia, com menos de 500.000 votos ou 0,68 por cento dos votos válidos. Seria o começo de uma trajetória de muitas vitórias no campo regional. Comprovando a máxima de que por trás de todo homem de sucesso tem uma mulher forte, Caiado era casado com umas das figuras mais históricas do PT em Goiás que é a professora do ensino público Thelma Gomes (@FlaThelma), mãe de Ronaldo Ramos Caiado Filho, que faleceu em 2022 de forma misteriosa na fazenda da família em Nova Crixás e Anna Vitória Caiado, que atua como braço direito e conselheira política do pai. Na ocassião, o Caiadrónomo, índice imaginário que mede o grau de (auto)intimidação e censura do caiadismo à imprensa goiana, dependente da verba estatal, atingiu seu maior pico, já que nenhum jornal da cidade publicou o verdadeiro motivo da morte, gerando muitas lendas urbanas e meias-verdades.

É claro que o esforço de coesão social que resultou nas Diretas-Já atenuaram diferenças em prol de uma convergência política exorbitante necessária para superar o militarismo, no que acabou trazendo para o mesmo barco, conservadores e esquerdistas desejosos, mesmo que por motivos pessoais e políticos bem distintos. Mas não deixa de ser uma anedota capciosa considerar que um senador, que ficou conhecido nacionalmente por ser antipetista, durante o impeachment da Dilma, que o seu primeiro casamento fora com uma membra do Partido dos Trabalhadores. Certamente, isso sinaliza muito sobre quais foram as condições de surgimento e subsistência da esquerda no Estado-símbolo do agronegócio exportador, acossada, não só no campo político, mas afetivo. Esse fato de origem do “Caiado-Petismo” aponta para a certeza de que esta corrente é menos uma opção consciente do que uma imposição inconsciente do coronelismo inercial que tenta se misturar com novas bandeiras políticas para camuflar suas velhas práticas de controle social, forjando uma democracia do paletó para fora.

O casamento de Caiado com Thelma não duraria muito, mas deixaria os seus frutos na sociedade, não somente através dos filhos e as suas pensões alimentícias, providas pelo bom provedor e péssimo marido, mas de uma retórica de polarização política unificadora de 2 tendências ideológicas opostas, mas que se retroalimentam e se complementam, eliminando terceiras vias viáveis. Afinal, os casais sempre vencem e mais vale um casamento falido do que nenhum. O preço de dormirem com o inimigo custaria caro ao casal, que perdera o seu primogênito sem filhos às vésperas da reeleição de Caiado para governador.

Homônimo do pai, tido como sujeito “introvertido” e “reservado”, talvez, por ter herdado a sensibilidade multicultural da mãe, mas sem a sua mesma resiliência política, Ronaldo Filho, carregando a mácula de ser a prova cabal do “Caiado-Petismo”, padeceu, psicologicamente, nesse cabo de guerra ideológico-familiar, em que a corda rói sempre pro lado do mais fraco, no caso, a terceira via, nem petista e nem caiadista, já que, para se beneficiar dessa justaposição política polarizadora citada, é preciso estar enraizado de um dos dois lados. Apesar de dizer gostar do trabalho no campo, Ronaldo Filho não atendia aos padrões grandiloquentes e megalomaníacos de masculinidade política de um Caiado do pé rachado. Morreu numa fazenda como um peão qualquer sem honrarias no processo de destruição criativa do seu desconfiado pai, que, meses antes, para laurear a sua campanha à reeleição, finalmente, conseguira “adotar” na política o filho de Maguito Vilela, logo após a morte deste por COVID, esse sim, um Caiado quase legítimo, varão pai de 2 filhos e respeitado em todo Estado, como liderança do MDB.

Caiado do DEM & Dilma do PT
Após a derrota prevista na campanha para presidente, Caiado tratou de utilizar o seu pequeno capital político conquistado pela sua ambição desmedida e grandiloquente, para se eleger inúmeras vezes deputado federal, a partir de 1991, pelo PFL (partido do ACM). Sempre defendendo pautas anti-sociais, ambientais e humanistas, etnocêntricas, consagrou-se como um dos grandes nomes do ruralismo e do agronegócio em Brasília, certamente, o maior inimigo do MST, como pode ser notado no site “De Olho nos Ruralistas”. Após sua aproximação oportunista com Iris Rezende (MDB), um dos ícones da democratização brasileira, que queria se vingar de Marconi Perillo (PSDB), após consecutivas derrotas para governador, Caiado conseguiu se eleger senador da República, o cargo mais alto que a sua família conquistara desde 1971, quando Leonino Di Ramos Caiado, elegeu-se governador.

A sua projeção nacional maior, o que catalisaria a viabilidade da sua candidatura a governador em 2018, seria suas veementes falas contra a presidenta Dilma Rousseff. Os seus ataques de fúria em defesa de uma moralidade política, que uma família que esteve atrelada ao poder por quase 300 anos, certamente, não têm, parecia ter propriedade de causa. Ele que viu a sua mulher esquerdista pedir divórcio em casa, o que é sentido como derrota pessoal mais para homem do que para mulher num Estado machista como Goiás, parecia projetar e canalizar em Dilma o boneco de Thelma de toda a sua raiva contra o feminismo e o marxismo, que havia instrumentalizado a sua ex-mulher, a juntar os cacos de uma relação desigual, colocando a Vara de Família nas suas costas. Caiado fora o maior e mais implacável algoz da presidenta e, por isso, foi condecorado com o cargo de governador no Estado mais antipetista do Brasil.

O “Caiado-Petismo”, que se justifica e se fortalece a partir da satanização do petismo, como qualquer religião messiânica, mas sem nunca eliminar o mal, pois que, numa associação do tipo conflitual, galgava ali um marcante trunfo, dos quais os posteriores seriam consequência direta. No filme “Democracia em Vertigem” de Petra Costa (2019) é possível perceber que Caiado assume o papel de antagonista de Dilma, tendo prestado, de forma sarcástica, os primeiros socorros ao advogado de Dilma, José Eduardo Cardoso, quando este se acidentou no Congresso Nacional. Longe de ser demonstração de humanidade, o lado branco da paz medicinal é uma faceta social do médico que é também o monstro, que aproveita do juramento de Hipócrates, para ser hipócrita na vida íntima e política. E, assim, Caiado utiliza-se do eugenismo médico e do machismo antipetista como estratégia de impulsionamento político, dessa vez, fora do ambiente privado, mas na esfera pública, dando mais um salto na sua carreira política.

Caiado do União Brasil & Aderson do PT
Apesar de ter nascido em Anápolis (GO), cidade de vocação industrial, militar, universitária e evangélica, a geografia dos tempos pueris de Caiado é marcada por referências a Goiás Velho, estando por isso lá, a sua casa metafísica da infância. Dando sequência a construção do edifício do “Caiado-Petismo”, não seria de se surpreender que, enquanto Caiado iniciava o governo do Estado do Palácio das Esmeraldas na cidade planejada construída, justamente, para se afastar da hegemonia política e financeira da sua família, um fato político contraditório, mas não irreconciliável, ocorresse na Cidade de Goiás. E ele ocorreu, para mostrar que as exceções podem comprovar as regras, sobretudo, quando a exceção é a regra.

Aderson Gouveia do Partido dos Trabalhadores foi eleito em 2020 para prefeito deste Patrimônio da Humanidade. O que parecia ser um calcanhar de Aquiles, se tornou, na verdade, a sua principal base de sustentação política, pois nada mais familiar para Caiado do que ter um petista cuidando da sua “casa”, no caso, “Vila Boa” (antigo nome da cidade). E, como bom pagador de pensão que se vangloria de cumprir com os deveres paternais, Caiado tem se utilizado do fato de manter uma civilidade governamental com o prefeito, o que é uma atribuição legal do cargo, como prova da sua honestidade democrata, não argumento esse que, na verdade, faz suspeitar do contrário. Inúmeras têm sido, entre o prefeito e o governador, as solenidades políticas e as visitas não íntimas, já que essa o governador quer banir para os presidiários do Estado em que o bandido tem que mudar de profissão, mesmo sem ter emprego.

Como um ex-marido zeloso, Caiado tem mostrado serviço em Goiás Velho, realizando e apoiando inúmeras obras eventos no município, o que acaba fortalecendo a imagem institucional do PT em Goiás, mesmo que às sombras da subalternidade da sua autoridade colonialista. Por exemplo, em novembro de 2021, Caiado inaugurou a Reforma do CEPI Colégio Estadual Lyceu de Goyaz Professor Alcide Jubé e da Delegacia de Polícia, vistoriou a duplicação da GO-070, do 1° Batalhão da PM e da Policlínica Rio Vermelho, somando investimentos na casa dos 100 milhões de reais. Obra mais afetiva para o governador, foi a revitalização do Palácio da Instrução, considerado o primeiro prédio em estilo Art Déco, prenunciando a moda arquitetônica que faria de Goiânia sua morada, construído pelo ex-governador Brasil Ramos Caiado em 1929 durante as celebrações dos 294 anos da antiga capital, ao custo de aproximadamente R$ 1 milhão, talvez, aqui na tentativa saudosista de roubar até umas das poucas identidades do imaginário urbano goianiense, muito associado a esse estilo. Já em Janeiro de 2023, no segundo mandato, Caiado assinou reforma do telhado, forros, pisos e sistemas elétricos da Catedral Sant’Ana na mesma cidade, na ordem de mais de R$ 3 mi.

Tais montantes de investimentos na área de patrimônio cultural material demonstram mais do que uma preferência pela sua cidade do coração, mas também pelo petismo (mal menor ou domesticável), pelo menos, em relação ao marconismo (ou psdbismo), haja vista, que a cidade de Pirenópolis, muito associada à figura do rival, o ex-governador Marconi Perillo do PSDB – casado com Valéria Perillo, nascida na cidade -, que sofre com a degradação patrimonial patética dos seus museus e igrejas, teria demandas urgentes nessa área também, mas sem receber o mesmo beneplácito do governador. Tal preferência pelo PT do que ao PSDB se deve ao fato de que regionalmente o PT não incomoda, por nunca ter tido se consolidado no Estado de Goiás ao ponto de estar competitivo para concorrer aos cargos de goveranador e senador. Já Lula e seus correligionários preferem ter como inimigo eleitoral Bolsonaro e seus pagadores de micos adestrados espalhados pelo Brasil, do que políticos ligados ao PSDB, justamente, porque a emergência da extrema direita justifica uma pregnância discursiva de um esquema polarizado de fazer política, que a esquerda domina, desde os tempos da ditadura, e que não a obriga a uma autocrítica efusiva. Dessa forma, a derrocada moral de Marconi Perillo em Goiás, de Aécio Neves em Minas, Beto Richa no Paraná e de João Dória em São Paulo vem a calhar, por motivos distintos, tanto à bolsonaristas, como à caiadistas e à petistas.

Em 2021, ficou famoso o entrevero entre os capangas do Caiado com cavalheiros e mascarados das Cavalhadas, demonstrando a falta de habilidade do governador em lidar com uma oposição mais real do que a do PT, que, em função do antipetismo em Goiás ser muito grande (por exemplo, desaprovação do governo Lula 3 em Goiás, beirando 60% em julho de 2023), segue o seu caminho da roça para Brasília, sem paradinha em Pirenópolis, onde o petismo é nanico, talvez, porque ali é a única cidade, em que se pode dizer que exista, de fato, uma corrente anticaiadista, mas, mais, por contraposição feita por um marconismo irredutível. A oposição entre PT e PSDB no Brasil, é também muito mais aparente do que aparenta ser, como mostramos entre PT e União Brasil em Goiás, tendo aspectos históricos em comum entre os dois partidos que justificam também uma nomenclatura dessa simbiose política complementar disfarçada de polarização radical e intransponível, que chamamos de “lulo-psdbismo”. Caiado, seguindo os passos de Lula, que se beneficiou do legado do FHC, apesar de negá-lo despudoradamente, tem tentado se aproveitar da grandeza nacional e da fraqueza regional do petismo brasileiro e goiano, respectivamente, para criar uma plataforma robusta, que propicie o seu antigo projeto de poder para presidência da República. Compreende-se então que, do mesmo jeito, que Caiado, enquanto representação do coronelismo, é uma ameaça muito maior do que Bolsonaro, FHC, deveria ser visto como político irmão de Lula.

Bruno Peixoto do União Brasil & Mauro Rubem do PT
A aliança pela polarização entre o petismo e o caiadismo persiste no segundo mandato de Caiado, já que apesar dos 3 membros da bancada petista da Assembleia Legislativa 2023-2026 serem de oposição ao Caiado e Caiado ainda ser muito associado ao antipetismo, na prática, nada é tão radical assim, sendo possível ver no subtexto político do antagonismo, a mesma estrutura de pactuação colateral e velada já demonstrada, beneficiando, assim, a situação em termos de uma quase coesão absoluta na Assembleia e ao PT, que, se previne de uma perseguição política no âmbito administrativo por parte da mesa diretora da casa. Além de terem Antônio Gomide (PT) no cargo de terceiro goleiro (secretário) na mesa diretora liderada por Bruno Peixoto (UB) e não apresentarem uma chapa concorrente encabeçada pela oposição, o líder da oposição, dep. Mauro Rubem, cede quadros do seu gabinete para cargos internos da ALEGO, inclusive, de chefia, o que torna mais difícil ainda a tarefa de conter os, praticamente, inevitáveis desmandos e retrocessos de Caiado, que os próprios petistas tanto criticaram no primeiro semestre de 2023 no plenário, pautas bombas para os trabalhadores do Estado como: privatização do plano de Saúde do funcionalismo público (IPASGO), mudança do prédio da Agência de comunicação pública Brasil Central (ABC) de comunicação pública, a criação da “taxa do Agro” (Fundeinfra) e alterações no Estatuto do Servidor Público.

Por outro lado, os petistas nada bradaram contra a descabida e estapafúrdia antecipação non sense da reeleição sem noção de Bruno Peixoto para a presidência da casa anos antes do término do seu primeiro mandato, desta vez, tendo a deputada estreante Bia de Lima (PT) como terceira secretária, mostrando que as cartas estão mesmo marcadas com marmelada na ALEGO. Ao aceitarem sem o habitual desagravo, três das 41 caminhonetes cabine dupla 4X4 no valor de mais de R$ 200.000 oferecidas aos gabinetes pela presidência, no lugar de um carro comum alugado, independentemente, da questão de necessidade prática de um carro tão equipado para todos os deputados e dos valores, que parece ser mesmo mais dispendioso do serviço de locação, não deixam de contribuir para reforçar a imagem de que em Goiás, mas também em Goiânia, o caiadismo rural-caminhoneteiro está fazendo escola, mas sem deixar de fazer bullying com os petistas.

Esse processo de inclusão marginal é uma forma de manter o controle da oposição que acaba, mesmo que, através de intermediários diplomáticos, como o presidente da Assembleia Bruno Peixoto e em prol do corporativismo legislativo, assinando em baixo, interinstitucionalmente, do governo Caiado, apesar de cumprir os seus papéis protocolares de brava oposição. É porque não tem como ser 99% contra o Caiado sendo 100% a favor do Bruno Peixoto, pois esse é 110% a favor do governador, sendo capaz de mover montanhas e mares para catalisar processos de aprovação de pautas governistas.

O que fica bem nítido é que a oposição ao Caiado, por parte do PT, além de ser ineficaz, não somente pelo quantitativo de membros, mas também pela sua compactuação velada com o Governo, é circunstancial, pode ser extinta ou arrefecida caso, Caiado passe a colaborar com mais veemência com Lula no âmbito federal. Tal condição fisiologista é nefasta para Goiás, pois demonstra a fragilidade de uma esquerda que, além de já conviver com o antipetismo desde o berço, está sendo mais uma vez ultrajada no seu direito de autoafirmação ideológica, por um político abjeto, que se transveste de estadista democrata, quando, na verdade, é um inimigo muito mais perigoso do que Bolso, que apesar da pecha de antidemocrático, não foi capaz de realizar nenhum golpe. A estirpe do Caiado é do tempo da monarquia colonial e do coronelismo cabresto, e é com base nesses preceitos com que governa no seu íntimo, apesar de se adequar as roupagens dos novos tempos para perpetuar os seus privilégios fundiários e políticos centenários a contento.

À guisa de uma esperança em uma Auto-crítica do PT
Com base na revisão crítica dos primeiros mandatos de Lula, sabemos que não será inédita pelo PT, a prática de se tornar comensal das velhas famílias aristocráticas regionais. Isso, a julgar pelos elogios dos seus ministros a Caiado na visita à "capital da fé” (Trindade-GO) em julho de 2023, como, Flávio Dino (PCdoB), ex-governador do Maranhão, outrora até cotado para ser candidato a presidente, quando Lula esteve preso. Para além do apoio velado à Caiado para se tornar governador e ter governabilidade em Goiás, já em curso, se o PT goiano seguir a tendência do PT Nacional, de aproximação com o Centrão, cedendo mais ainda aos encantos da sereia caiadista, servirá de trampolim regional para o processo de nacionalização do caiadismo, ignorando que Caiado é antipetista contumaz o suficiente para se tornar o candidato oficial do bolsonarismo em 2026 contra Lula. Lutar como um anticaiadista é a única forma de combater o antipetismo, o antidemocracia, o antiambientalismo, o coronelismo, o classismo, o racismo e o machismo. Ou seja, de ser o PT histórico.

Pelo caminho mais curto, na inércia complacente atual, não há nem garantias de que a legenda obterá algum oxigênio político e um cenário eleitoral mais favorável a sua vitória na prefeituras da antiga e nova capital do Estado -, ainda mais agora que Bruno Peixoto já começa aquecer no banco de reservas da rede política do governador, já se apresentado como candidato viável na eventual falta de outra candidatura viável desse grupo. Mas com certeza, ele perderá a oportunidade de consolidar a sua perspectiva humanista em cargos políticos federais e estaduais de maior projeção como senado federal e governadoria, respectivamente -, ou mesmo atuar nos legislativos camerais estaduais e federais de forma atuante também contra o coronelismo. Do fortalecimento de uma esquerda real em Goiás, depende a luta antibolsonarista, mas também anticoronelista no Brasil, haja vista, que Caiado presidente, valendo-se do peso geopolítico e histórico que o Estado goiano tem sobre a jurisprudência vizinha -, tendo Goiânia influenciado e colaborado para a construção de Brasília, cedendo territórios, inclusive -, vai fazer do quadrado agrimensurável do DF mais uma fazenda totalitarista do seu já extenso patrimônio.

É nesse sentido, que a luta pela democracia representativa popular, que é uma conquista recente, depende do combate ao pretérito republicanismo militar bolsonarista, mas também ao já ancestral monarquismo coronelista caiadista, até porque como vimos durante o almoço no Palácio das Esmeraldas oferecido pelo governador Caiado ao comedor de pau com Nescau no dia 14 de julho, a transferência de poder deste, agora inelegível, pelo STF, para aquele, já está em curso e qualquer associação subliminar clientelista com Caiado, que seja, por parte do PT nacional ou goiano, será uma forma de correr para o abraço cordial com o seu malvado preferido.

 

* F. Assis Brasil é Professor de Políticas Públicas na  UFJS, Doutor em Ciências Jurídicas e Econômicas pela UFRJ
 

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