Coluna

A POESIA QUE HABITO

Rio - É uma sensação inédita - e saborosa - a de acordar em 2021 e descobrir que, por força de um sentimento tão lindo como o amor, me tornei poeta.

Quando comecei a escrever pequenos textos simples e despretensiosos para uma mulher, pela qual estava me apaixonando, não tinha nenhuma pretensão literária. Só queria agradá-la.

A Vida, no entanto, tinha outros planos. 

"Sua poesia é linda, você deveria publicá-las!"

A observação da mulher amada me pegou de surpresa. Poesia? Aquilo era poesia? Para mim, eram palavras soltas que coloquei no papel para conquistar um coração. Só isso.

"Você é um poeta. Sempre foi, só não sabia que era" - ela disse.

livro de ediel ribeiro
Divulação

Então, virei poeta por amor. 

Minha poesia sai do coração. Solta. Pura. Escrevo versos livres,  permeados por metáforas e figuras de linguagem que não obedecem às exigências da métrica, tendo como único critério as pausas espontâneas da inspiração; ou dos versos soltos, que não se submetem à rigidez das rimas.

De lá para cá,  já publiquei vários  poemas, participei de várias antologias poéticas e, se a pandemia deixar, esse ano sairá o meu livro de poesias.

"O Amor não é só uma Palavrinha. É um Palavrão" é o meu livro de estréia como poeta. Espero que gostem de ler, tanto quanto gostei de escrever.

Obrigado, amor, pelo que você me tornou.

Público aqui  -  a guisa de crônica  - dois poemas do livro:

O VENTO E A VELA

A vela
É feita para o vento
Não para o barco

Sem o vento
A vela é inútil,

A vela sem o vento
É como as estrelas
Sem um poeta.

O vento é o amor
A vela é a amada.
Um não vive sem o outro.

A vento cuida da vela
Porque precisa dela,
Como o barco do mar.

Sem o vento a vela não existe.
É como a linha do horizonte:
Só uma miragem.

Às vezes, pertencemos a alguém
Que está longe, como o vento
E não a quem está perto, como o barco.

Não é o barco que te leva
É o vento.
O vento sabe mais sobre o destino que o barco.

Vento e vela se completam
Como o mar e o cais
Precisam um do outro.

Como disse o poeta:
Você não pode mudar o vento
Mas pode ajustar a vela

E navegar  
Por águas calmas
Até o pôr do sol.


GÊNIOS E LOUCOS

Há um gato sobre a mesa
Lambendo a orelha de Van Gogh
Lá fora,  Hemingway carrega seu rifle
Ouço um tiro

Num beco atrás do bar
Onde o escritor jaz bêbado 
Os cães lambem a cara de Faulkner
Ouço um latido

Burroughs e Mailer 
Matam suas mulheres
E são perseguidos pelo 
Padre Brown, detetive de Shesterton
Ouço passos

Sábato e Jorge Luis Borges
correm de Videla
Neruda e Bolaño de Pinochet
Zweig e Freud  de Hitler
Ouço tiros

Sócrates bebe cicuta
Num boteco na Grécia
Aristóteles é expulso de Atenas
Platão é vendido como escravo
Ouço arrastarem correntes

Bukowski come uma puta
Num quarto imundo
Beethoven, mesmo surdo,
reclama do barulho
Apago a luz

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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