Coluna

João Nogueira: Vem quem tem

“Eu quero ter a liberdade
De um bando de albatrozes
Eu quero ouvir meu canto na cidade
Multiplicado em muitas vozes”

- Marineth, a música “Albatrozes” integra o repertório do disco Vem quem tem, do cantor e compositor João Nogueira, lançado no mercado fonográfico, em 1975, portanto, há meio século. Tem ainda “Nó na madeira”, “Mineira”, “Não tem tradução”, “Amor de malandro”, “Convênio com cupido”, “O homem de um braço só”, “Samba da bandola”, “Vem quem tem, vem quem não tem”, “Chorando pelos dedos”, “Pra fugir nunca mais” e “Seu caminho se abre”.

- Athaliba, neste 3º LP, ele recebeu certificação de excelente letrista e musicista de críticos musicais, ratificando o talento exteriorizado no disco homônimo, com nome dele no título, gravado em 1972. No final de “Albatrozes” ele declara o amor ao nosso continente: “Eu quero o cheiro dessa mata/E ver do céu todo esse azul/Eu quero ouvir os cantos tristes/Da minha América do Sul/E quero depois um desejo/Num beijo puro da manhã/Te enredar nos braços/E dizer te amo”.

Arte do cartunista Silvio Redinger, o Redi, na capa do disco de 1975. | Reprodução.

- Marineth, além da música “Albatrozes”, o artista é autor de “Nó na madeira”, com Eugênio Monteiro; “Convênio com cupido”, com Paulo César Pinheiro; “Samba da bandola”, com Cartola; “O homem de um braço só”; “Mineira”, com Paulo César Pinheiro; “Vem quem tem, vem quem não tem”; “Chorando pelos dedos” e “Pra fugir nunca mais”, com Cláudio Jorge; “Seu caminho se abre”. “Não tem tradução” é de Noel Rosa; “Amor de malandro”, de Monarco e Alcides Dias.

- Athaliba, no 1º disco, a música “Das 200 pra lá” estourou na voz da Eliana Pittman. Mas, “Morrendo verso em verso” me arrebatou. Sugiro aos leitores a sua audição: “Sem você sou só metade/Sinto falta do seu beijo/Tenho boca, pouco falo/Tenho olhos, pouco vejo/Sambei na cidade com o meu cordão/Ganhei na verdade a consagração/Mas pra mim foi só metade/Faltou-me a sua mão/Anda amor, vê se dá pra voltar agora/A lua derramou tristeza/E a brisa que era uma beleza/Esfria o coração que chora/Tudo é mesmo só metade/Restou somente uma saudade/Depois que você foi embora/Vou morrendo verso em verso/Volta, amor, que é hora”.

- Marineth, paralelo ao 1º LP, o João Batista Nogueira Junior gravou compacto simples (disco de vinil, formato sete polegadas de diâmetro, rotação de 45 RPM), com duas músicas, uma de cada lado: “Alô Madureira” e “Mulher valente”. Ambas de sua autoria. Em 1968, a música dele “Espere, ó nega” foi gravada pelo conjunto Nosso Samba. Mas, a visibilidade no cenário artístico veio com a gravação de “Corrente de aço”, na voz da cantora Elizeth Cardoso, a Divina.

- Athaliba, esse apelido da cantora foi dado pelo jornalista Haroldo Costa, em uma crônica publicada no jornal Última Hora, após assistir um dos shows dela, em 1958. Modesta, ela evitava o título. Mas, a cantora estadunidense Sarah Vaughan a convenceu a aceitá-lo. Desde então, ela atendia os fãs, outros artistas e críticos, em reconhecimento a voz maravilhosa, chamando-a pelo apelido. Como é a música gravada do João Nogueira?

- Marineth, tá no disco dela Falou e disse lançado em 1970. É assim: “Eu cansei de viver chorando/Cantando agora sou feliz/A tristeza mora ali ao lado/E é bem fácil fazer o que fiz/Amigo siga o ditado/E a música o amor conduz/Canta, quem canta seus males espanta/E de um samba de amor/Pode surgir a luz/Eu tenho no peito um tesouro/O meu coração é de ouro/Em samba de couro ou de lata/Não devo um tostão a ninguém/Sou mestre e não sinto cansaço/A minha corrente é de aço/Quem quiser ser feliz/Cante comigo também, lá, ia, lá ia”.

- Athaliba, o João teve influências de Noel Rosa, Geraldo Pereira e Wilson Batista. E os homenageou com seus nomes no título do disco de 1981. Na música diz: “Eu bem que sabia/Que o samba que eu tinha na mente/Era diferente, com jeito de Wilson, Geraldo e Noel/Puxei a cadeira/Não bati mais papo/Peguei a caneta e o guardanapo/Passei o samba pro papel/Nos versos joguei a malícia lá da malandragem/Correr da polícia tem que ter coragem/Malandro que dorme vai cedo pro céu/Peguei o meu samba e fui logo mostrando/A meiga Elizeth, ela sorrindo/Nego tem topete/Já pode sambar lá em Vila Isabel/Daí em diante eu já fui consagrado/Ó meiga Elizeth o meu muito obrigado/E do outro lado/Obrigado a Wilson, Geraldo e Noel”.

- Marineth, o artista faleceu 5/6/2000, vítima de infarto. Deixou obra que enriquece a nossa maior manifestação cultural: o samba. Vale mergulhar no seu universo musical. Viva João.Viva!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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