Coluna

A ÚLTIMA DO RONIQUITO

Rio - Eu já tinha escrito, aqui no jornal, sobre o boêmio Ronald de Chevalier, quando chegou aqui em casa o gostoso livro "Dr. Roni e Mr. Quito"  - li de um gole só - do mais amado e temido boêmio de Ipanema, escrito pela sua irmã, Scarlet Moon, ex-mulher do roqueiro Lulu Santos. 

Lendo o livro, vi que Roniquito era muito mais do que me contaram e do que eu imaginava.

Concordo com o ator Hugo Carvana: "Roniquito não era só Roniquito. Era mais que isso. Era uma época."

O livro é  antigo, tem quase vinte anos. Talvez você, leitor, não o encontre, então, -  usando uma palavra da moda - vou dar aqui uns "spoilers”.

No livro, Scarlet conta que uma manhã Roniquito entrou  na agência do Banco Nacional, na José Linhares, totalmente de pileque, para espanto do gerente. O gerente perguntou o que estava havendo e Roniquito explicou:

- Volta e meia vocês devolvem os cheques que assino de noite, nos bares, quando estou de pileque. Então, vim até aqui para assinar uma ficha com assinatura de bêbado para que meus cheques não sejam mais devolvidos.

Outra:

Roniquito e Ronaldo Bôscoli eram amigos. Muito amigos. Mas, todas as vezes em que Roni e Bôscoli se encontravam, o boêmio resolvia recitar um poema do compositor que sabia de cor. Mandava:

Quem sabe a mulher dos outros
Cansada da própria cama
Cismada com meu mistério
Com meu sapato, meu drama
Ou simplesmente adultério

Para em seguida comentar:

- Deixou de ser poeta para escrever essa merda de barquinho!
(referência a música “O Barquinho”, de Bôscoli e Roberto Menescal)

Mais outra:

O compositor Edu Lobo era casado com Wanda Sá. Uma noite, foi apresentado por Wanda a Roniquito, que assobiava uma música, na mesa de um bar em Ipanema. Wanda perguntou, assim que sentaram:

- Que lindo! Que música é esta?

- Isto - diz Roniquito - é Wolfgang Amadeus Mozart, que, por acaso, é um compositor um pouco melhor que seu marido. 

Passa o tempo. Corta para o Lunas Bar, no Leblon:

Roniquito
Ilustração: Jaguar

Ferdy Carneiro encontrou Roniquito numa mesa, na varanda, com um tiete. Ferdy vinha do enterro de um amigo comum e perguntou porque ele não tinha ido ao cemitério.

Roniquito pergunta:

- Você teve coragem?

E abriu o maior berreiro.

O tiete diz:

- Pô, Roniquito, você está chorando por um homem?

Em prantos, Roniquito levanta, pega uma cadeira e quebra na cabeça do cara.

Mais uma:

Roniquito tinha uma namorada que era separada do marido e tinha dois filhos. Mas os porres frequentes e as agressões verbais do namorado a levaram a pôr fim ao namoro. Roniquito, inconformado, telefonava para ela dia e noite, tentando reatar o namoro. Ao ver que não conseguiria convencê-la a voltar com ele, disse, já descontrolado:

- Pois fique sabendo - berrou ele - que você é uma bosta e seus filhos são feios pra cacete!

Outra do livro:

Roniquito e Nana Caymmi eram amigos. Tão amigos, que algumas pessoas achavam que tinham um caso.

Certo verão, Roniquito e Nana passeavam de carro pela orla. O dia estava quente e lindo. A praia estava lotada e não havia uma nuvenzinha no céu que pudesse sugerir que fosse cair uma chuva. 

No trajeto, Nana virou-se para Roni e disse:

- Vai chover!

Roniquito, rindo, disse que Nana era louca.

Nem bem acabou de falar, caiu um temporal que inundou a cidade. Vendo o carro inundado, Roniquito mandou:

- Escuta aqui, sua bruxa filha-da-puta, vê se prevê alguma coisa boa para amanhã!

O livro é cheio de histórias como estas. É um livro curto, mas intenso, como foi a vida de Roniquito.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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