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ELMORE LEONARD, O GÊNIO DOS DIÁLOGOS

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Rio de Janeiro - Acabei de ler o meu primeiro livro de Elmore Leonard: “Raylan” (Companhia das Letras - 288 páginas). 

Quem gosta de literatura policial e suspense certamente conhece Elmore Leonard. 

E, se não conhece, precisa. 

Conheci Elmore Leonard através do escritor Stephen King que o considera um dos grandes romancistas norte-americano e um dos maiores autores de diálogos de todos os tempos.

Como disse o escritor Dennis Lehane, ler um diálogo de Elmore é como “ouvir uma conversa por uma porta entreaberta”. 

Martin Amis entregou um prêmio a Elmore e disse: “sua prosa faz Raymond Chandler parecer atrapalhado”.

O escritor  nasceu em 11 de outubro de 1925, em Nova Orleans e morreu em 20 de agosto de 2013, no Michigan, aos 87 anos.

Elmore escrevia sete dias por semana em uma sala de estar de uma bela casa em Bloomfield Village, 32 quilômetros ao norte da cidade de Detroit, com uma caneta Pilot número cinco em papel amarelo liso.

Ele não usava nem e-mail nem computador. Antes de enviar o manuscrito para a editora, o autor reescreve as páginas em uma máquina de escrever IBM Selectric, que, de vez em quando, quebrava devido ao excesso de trabalho diário.

Elmore, que teve seu livro de estréia rejeitado 84 vezes, escreveu ao todo, 45 livros - o último, Raylan, foi lançado em 2011. Passando do faroeste para os romances policiais, ele se tornou um escritor consagrado com o lançamento de "Glitz", em 1985. Elmore escreveu muitos best-sellers, incluindo "Paradise" ("Paraíso"), "Be Cool" ("O Outro Nome do Jogo"), "Get Shorty" ("O Nome do Jogo") e "Rum Punch".

Ex-marinheiro e redator publicitário, Elmore entrou na literatura publicando contos na revista pulp Argosy. Seu primeiro texto de sucesso foi Trail of the Apaches, em 1951.

A fama mundial veio a partir do final dos anos 1990, quando seus livros passaram a ser adaptados para o cinema por diretores como Quentin Tarantino (Jackie Brown) e Steven Soderbergh (Irresistível Paixão). 

Seus livros eram simples e diretos. Ele privilegiava o diálogo e evitava os parágrafos longos, com descrições extensas de paisagens ou monólogos. “Tento evitar trechos que os leitores costumam pular”, era um dos seus motes.

Por mais cinzentas e pesadas que fossem as histórias, sempre tinham humor.

Os personagens, por mais breves, sempre traziam algo de interessante para a história, nunca estavam lá apenas para levar um tiro ou ser atropelado.

E os diálogos, como dizia Stephen King, eram muito bons.

Em um guia de 10 tópicos, publicado no New York Times em 2001, deu dicas para escrever um bom texto - que se tornou um guia para jovens autores que procuram aprimorar seus estilos literários.

“Essas regras eu aprendi pelo caminho e me ajudaram a me tornar invisível enquanto estou escrevendo um livro, possibilitando que eu mostrasse a história, ao invés de contá-la”,  dizia.

Confira: 

1 – Nunca comece o livro falando do tempo.
Se é só para criar atmosfera e não para demonstrar a reação do personagem ao clima, não se demore muito. O leitor tende a pular essa parte, procurando por pessoas. Claro, há exceções. Se você é Barry Lopez, que tem mais maneiras de descrever a neve do que um esquimó, você pode fazer todo o relatório meteorológico que quiser.

2 – Evite prólogos.
Eles podem ser irritantes, especialmente um prólogo antes de uma introdução seguido de um prefácio. Mas estes são mais comuns em não-ficção. O prólogo na novela é uma história pregressa. Você pode colocar isso em qualquer outro ponto do livro.

3 – Nunca use outro verbo além de “disse”, para demonstrar diálogo.
O diálogo pertence ao personagem; o verbo é o escritor enfiando o nariz onde não é chamado. Mas “disse” é muito menos intrusivo do que “rosnou”, “murmurou”, “exasperou-se”, “mentiu”. Eu uma vez notei Mary McCarthy terminando uma fala de diálogo com “ela asseverou”. Eu precisei parar de ler e ir pegar o dicionário.

4 – Nunca use um advérbio para modificar o verbo “disse” O uso de advérbio nesse caso (e em quase todos os outros) é um pecado mortal. 
O escritor está se expondo, usando uma palavra que distrai e pode interromper o ritmo da conversa. Eu tive um personagem em um dos meus livros que escrevia romances históricos “cheios de estupros e advérbios”.

5 – Mantenha seus pontos de exclamação sob controle.
Você pode usar no máximo duas ou três exclamações para cada 100 mil palavras de prosa.

6 – Nunca use palavras como “subitamente” ou “caos total”.
Esta regra não precisa de explicação. Eu notei que escritores que usam “subitamente” costumam ter menos controle de seus pontos de exclamação. Use dialeto regional, moderadamente. 

7 – Use regionalismos com moderação.
Se você começar a escrever palavras foneticamente em seus diálogos, vai ficar difícil parar. Vá com calma.

8 – Evite descrições detalhadas de personagens.
Ernest Hemingway, em  Hills Like White Elephants, descreve “O Americano e a garota com ele” de que forma? “Ela tirou seu chapéu e colocou sobre a mesa”. Esta é a única referência física da história. E ainda assim nós vemos o casal e reconhecemos seus tons de vozes, sem que um advérbio seja usado.

9 – Não dê muitos detalhes ao descrever lugares e pessoas.
Evite que a descrição do cenário interrompa o fluir da narrativa.

10- Tente retirar as partes que o leitor tende a pular.
Pense no que você pula quando está lendo um romance. Parágrafos longos que parecem ter palavras demais. Normalmente onde o autor está descrevendo o clima de novo, ou falando sobre o que o personagem está pensando. Ou o leitor sabe o que se passa na cabeça do personagem ou não se importa. Aposto que ele vai pular para o diálogo.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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