Coluna

GETULIO E LULA

Quero propor, neste artigo, que reflitamos sobre a compaixão e a solidariedade. Como estes sentimentos são importantes para a genuína fé cristã.

Compaixão lida mais com o interior, a vida espiritual, o coração. A solidariedade trabalha mais com as ações concretas, que desaguam num comportamento de ajuda e companheirismo prático.

Não tem  qualquer mérito exaltar o poder porque o poder perece. Apropriado é homenagear quem esteve por cima e hoje está por baixo.

Quando esteve no topo teve mil bajuladores.

Na prisão só mesmo uma figura grandiosa como Frei Leonardo Boff para ter a iniciativa de visitá-lo, embora impedido de concretizar seu propósito pela arbitrariedade judicial.

Getulio Vargas
Getulio Vargas. (Foto: etno.com.br)

Que saudades de meu tempo de juiz, quando o magistrado era o fiel na balança. Não pendia nem para um lado, nem para o outro.

Neste texto, presto tributo a Getúlio Vargas e a Lula que são, a meu ver, os dois maiores estadistas do Brasil, nos séculos XX e XXI.

Getúlio suicidou, Lula está preso.

Motivos semelhantes levaram Vargas ao suicídio e Luis Inácio ao cárcere.

Não obstante a distância, no tempo, entre essas duas personalidades, há muito em comum entre ambas.

Getúlio e Lula defenderam as riquezas nacionais contra a cobiça estrangeira. Getúlio criou as bases do Direito do Trabalho, Lula fez avanços na legislação operária.

Um dos maiores legados de Vargas foi a implementação de um projeto desenvolvimentista baseado na forte presença do Estado em áreas consideradas cruciais para o desenvolvimento do país.

Atuando como regulador ou empreendedor de certas atividades econômicas, a intervenção estatal tinha por objetivo estimular a industrialização e modernização do país.

Lula partilhou de ideais semelhantes, embora num outro tempo.

Getúlio e Lula tiveram o apoio das camadas mais pobres da sociedade. Contaram com a simpatia de setores da classe média. Atraíram contra si o ódio dos que não queriam e não querem nada perder.

Essa camada superior não se considera detentora de qualquer privilégio. Tudo que conquistou foi resultado de luta e esforço, diferentemente da plebe rude.

Nenhum brasileiro recebeu homenagens semelhantes às tributadas a Getúlio, após sua trágica morte. O Brasil chorou. Os idosos lembram-se disso.

Frequentadoras da Missa, católitos exemplares, essas pessoas não consideram que profanam o Evangelho quando se socorrerm das palavras do Cristo para defender uma sociedade de classe.

Pobres, sempre tereis convosco. (Marcos: 12, 7).

O Cristianismo tem seu fundamento no amor e na solidariedade.

A ideia de competição, como diretriz para a vida econômica, mesmo quando essa competição esmaga os fracos, não tem filiação evangélica.

João Baptista Herkenhoff (ES)

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Direito e Cidadania

JOÃO BATISTA HERKENHOFF, é Juiz de Direito aposentado. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória e também um dos fundadores do Comitê Brasileiro da Anistia (CBA/ES). Por seu compromisso com as lutas libertárias, respondeu a processo perante o Tribunal de Justiça (ES), tendo sido o processo arquivado graças ao voto de um desembargador hoje falecido, porém jamais esquecido. Autor de Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes (Editora Santuário, Aparecida, SP).

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