Coluna

CJP 40 anos

Disse Victor Hugo – Quarenta anos é velhice para a juventude e cinquenta anos é juventude para a velhice.
 
O grande escritor francês referia-se a juventude e velhice dos seres humanos.
 
Neste artigo vou tratar dos 40 anos, não de uma pessoa, mas de uma instituição.
 
Vou falar dos 40 anos da Comissão de Justiça e Paz de Vitória.
 
A CJP de Vitória foi criada em 1978 pelos Bispos Dom João Baptista da Motta e Albuquerque e Dom Luís Gonzaga Fernandes.
 
O Brasil vivia sob regime ditatorial, pois estava em vigor o Ato Institucional Número  5, que foi imposto ao país em 13 de dezembro de 1968.
 
Não havia garantias, era o primado do arbítrio.
 
Opositores do regime eram torturados e lançados no alto mar onde alimentavam os peixes.
 
A Comissão de Justiça e Paz de Vitória, embora criada sob a égide de Bispos, não era uma instituição católica.
 
Dentre os seus primeiros membros havia dois ministros evangélicos – o Pastor Claude Labrunie e o Pastor Jaime Wright.
 
Nem era mesmo uma instituição integrada, obrigatoriamente, por crentes, por pessoas que professavam a fé em Deus.
 
Um dos membros supunha ser ateu, mas eu contestei seu ateísmo.
Disse-lhe certo dia – Você nao é ateu, querido companheiro. Você tem colocado sua vida em perigo defendendo a Justiça.
 
Não é crente quem beija o anel do Bispo, ajoelha-se nos bancos da catedral, mas não pratica a Justiça e explora o irmão.
 
Tem Fé, uma Fé autêntica, que não precisa ser explicitada, aquele que faz do zelo pela Justiça um Evangelho. Quisera eu ter sua Fé.
 
Ele ficou emocionado, mas contestou – eu não sou isto não.
Esta pessoa, que estou relembrando, assumiu mais tarde uma Fé explícita. Passou a frequentar Missas.
 
Trata-se do Advogado Ewerton Montenegro Guimarães.
 
Ocorre-me neste momento a lembrança desse lutador, hoje falecido. Ele nao gostava de elogio público.
 
Se estivesse vivo, este artigo lhe traria desconforto.
 
Dirijo meu pensamento a Ewerton pedindo que, lá na mansão de Deus, onde ele está, peça  por nós, que ainda estamos aqui.
 
Nestes 40 anos de existência, a CJP procurou ser a voz de quem não tinha voz.
 
Opôs-se a despejos coletivos que mandavam para a rua dezenas de famílias miseráveis.
 
Denunciou abusos contra presos e torturas praticadas nas prisões.
 
Apelou a advogados voluntários para que defendessem pobres, antes de ser instituída, com muito atraso, a Defensoria Pública.
 
Fui membro da Comissão de Justiça e Paz.
 
Considero isto muito mais importante do que se tivesse sido ministro do Supremo Tribunal Federal.

João Baptista Herkenhoff (ES)

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Direito e Cidadania

JOÃO BATISTA HERKENHOFF, é Juiz de Direito aposentado. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória e também um dos fundadores do Comitê Brasileiro da Anistia (CBA/ES). Por seu compromisso com as lutas libertárias, respondeu a processo perante o Tribunal de Justiça (ES), tendo sido o processo arquivado graças ao voto de um desembargador hoje falecido, porém jamais esquecido. Autor de Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes (Editora Santuário, Aparecida, SP).

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