Casos de hepatite disparam em Minas e reforçam alerta por testagem e vacinação
Estado vê aumento expressivo das infecções A e C; diagnóstico precoce e tratamento gratuito pelo SUS evitam agravamentos graves

Belo Horizonte - O número de casos de hepatites virais disparou em Minas Gerais nos últimos dois anos, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). De 2023 a 2025, os registros de hepatite A saltaram de 38 para 282. Já os de hepatite C, forma mais silenciosa e perigosa da doença, subiram de 1.095 para 1.241 entre 2023 e 2024 — e seguem em alta. A situação reacende o alerta para a importância da testagem e do tratamento precoce, ambos disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Morador da capital, Ismael Henrique, de 57 anos, descobriu que era portador de hepatite B em 2000, após investigar o inchaço nas pernas. “Minhas pernas ficavam inchadas no fim do dia. Busquei atendimento médico, fiz exames e recebi o diagnóstico de hepatite B”, conta. Desde então, ele mantém acompanhamento médico contínuo. “Hoje levo uma vida normal e saudável. Eu não teria condições de pagar por esses medicamentos. Recebê-los gratuitamente, a cada três meses, é fundamental para a minha vida.”
As hepatites virais são infecções que atacam o fígado, geralmente de forma silenciosa. Por isso, segundo a coordenadora de IST/Aids e Hepatites Virais da SES-MG, Mayara Marques, o maior desafio ainda é o diagnóstico precoce. “A maioria das pessoas infectadas não apresenta sinais da doença. Por isso, a testagem é fundamental. Toda pessoa deve ser testada pelo menos uma vez na vida para hepatites B e C”, orienta.
Em Minas, os testes rápidos estão disponíveis nas unidades básicas de saúde. Já os exames específicos para os tipos A, D e E também podem ser solicitados. Caso o diagnóstico seja confirmado, o paciente é encaminhado para um dos 75 Serviços de Atendimento Especializado (SAE) e Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDM) em funcionamento no estado.
A farmacêutica Williane Mendes explica como funciona o acesso aos remédios: “Esses medicamentos fazem parte do Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica. O paciente pode iniciar o tratamento com o protocolo definido, após apresentar exames e documentação em uma UDM.”
A infectologista da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Cíntia Parenti, reforça a importância de detectar a doença o quanto antes. “Hepatites B e C podem se tornar infecções crônicas. Ou seja, o vírus pode permanecer por mais de seis meses no fígado da pessoa e, se não tratado, o quadro pode evoluir para cirrose ou câncer de fígado”, explica. Segundo ela, a hepatite C tem taxa de cura superior a 95% quando tratada no momento adequado. “Como são infecções muitas vezes silenciosas, a pessoa pode não perceber que está doente. Por isso, a testagem é tão essencial.”
No caso da hepatite A, o aumento de casos também chama a atenção. Os registros saltaram de 38, em 2023, para 211 em 2024 e 282 em 2025. A infectologista atribui parte da elevação à transmissão por via sexual. “Tem sido identificada a transmissão por relação oral-anal, principalmente. Por isso, é essencial o uso de preservativos e a higienização correta das mãos e da região genital.”
A vacinação é uma das principais estratégias de prevenção. Em 2025, a cobertura em Minas foi de 91,53% para hepatite A e 87,20% para hepatite B entre crianças com menos de um ano — abaixo da meta do Ministério da Saúde, que é de 95%. A imunização contra hepatite B é oferecida para todas as idades. A vacina contra hepatite A está incluída no calendário infantil e também pode ser aplicada em pessoas com condições especiais, como usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV), nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). “É importante destacarmos que usuários da PrEP também têm acesso à vacina contra hepatite A”, diz Mayara Marques.
Evitar o compartilhamento de objetos cortantes, como agulhas, alicates ou lâminas, e exigir o uso de materiais esterilizados em salões e consultórios são outras formas de prevenção. Para Ismael, o acesso ao tratamento gratuito foi determinante: “No início, precisei separar objetos de uso pessoal. Hoje, com o tratamento certo, não há mais essa necessidade. Fazer o teste pode salvar vidas.”
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