Apontado como mandante da morte de Bruno e Dom, “Colômbia” vira réu na Justiça Federal
Peruano chefiaria esquema de pesca ilegal no Vale do Javari; ele é o nono denunciado pelo crime
TABATINGA (AM) – A Justiça Federal do Amazonas aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e tornou réu Rubén Dario Villar, conhecido como “Colômbia”, suspeito de ser o mandante dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorridos em junho de 2022 na região do Vale do Javari.
A denúncia foi apresentada em junho deste ano ao juízo da Subseção Judiciária Federal de Tabatinga (AM) pelo procurador da República Guilherme Diego Rodrigues Leal, com apoio do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri (GATJ). Villar é o nono acusado formalmente no caso e está preso preventivamente. De acordo com o MPF, ele ordenou os assassinatos por se sentir ameaçado pelas ações de Bruno e Dom, que denunciavam práticas ilegais de pesca e promoviam a conscientização ambiental entre comunidades indígenas.
Envolvimento com crimes ambientais e tráfico
Conhecido na região de fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, “Colômbia” é de nacionalidade peruana e, segundo a Polícia Federal, chefia um esquema criminoso de pesca ilegal e tráfico de drogas no Vale do Javari. Ele já responde a processos por tráfico internacional, uso de documento falso e pesca predatória.
Villar chegou a se apresentar voluntariamente à Polícia Federal, em junho de 2022, para negar envolvimento no desaparecimento de Bruno e Dom, mas acabou preso por portar documentação falsa. Após ser solto provisoriamente, voltou a ser detido por descumprimento de medidas cautelares.
A investigação aponta que Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos por incomodar interesses de criminosos da região, com seu trabalho voltado à proteção de terras indígenas e à fiscalização ambiental.

Outros denunciados
O crime causou repercussão internacional e levou a uma mobilização de diversas instituições públicas brasileiras. Logo após o desaparecimento, a Polícia Federal encontrou os corpos enterrados na floresta, a partir de confissão de um dos suspeitos.
Três homens foram denunciados como executores do crime:
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• Amarildo da Costa Oliveira (Pelado)
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• Oseney da Costa de Oliveira (Dos Santos)
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• Jefferson da Silva Lima (Pelado da Dinha)
O MPF também pediu que os três fossem levados a júri popular, pedido aceito pela primeira instância. Contudo, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) retirou Oseney da lista. O Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que ele também seja julgado pelo tribunal do júri.
Em junho de 2024, mais cinco pessoas foram acusadas de participar da ocultação dos corpos, entre elas familiares dos executores:
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• Francisco Conceição de Freitas
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• Eliclei Costa de Oliveira
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• Amarílio de Freitas Oliveira
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• Otávio da Costa de Oliveira
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• Edivaldo da Costa de Oliveira
Repercussão e contexto
O assassinato de Bruno e Dom jogou luz sobre os riscos enfrentados por defensores da Amazônia e comunicadores em áreas de conflito fundiário e ambiental. O Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, abriga dezenas de povos isolados e sofre pressão constante de atividades ilegais como garimpo, pesca e caça.
Organizações como a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), para a qual Bruno atuava como assessor, têm reiterado pedidos de reforço da presença do Estado e proteção aos territórios indígenas.
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