
Rio de Janeiro - Outro dia, num papo com Loredano, no Botequim do Jóia - Rua Júlia Lopes de Almeida, 26 - Centro -, ele me contou uma história hilária sobre como conheceu o cartunista Jaguar.
“Eu tinha vinte e poucos anos, recém-chegado de São Paulo, desenhava para o jornal “Opinião”, num prédio vizinho à redação do “Pasquim”, em Copacabana. Um dia, fui lá conhecê-lo. Jaguar, no início da carreira era fã do cartunista Steinberg, “chupava” descaradamente o romeno. Como não tinha grana para comprar as revistas estrangeiras, fez amizade com o gerente de uma livraria chamada “América & China”, que ficava na rua do Ouvidor que o deixava admirar os desenhos de Steinberg, publicados na revista “The New Yorker”, sem pagar.
Era tão fã que não admitia que um cartunista não conhecesse Saul Steinberg, segundo ele, “o Picasso do desenho de humor”. “Você não conhece Steinberg!??”, indignou-se, no nosso primeiro encontro. “Toma! Leia esses livros!, disse”.
Loredano leu tudo que pode de Steinberg. Mas leu também Hermenegildo Sabat, Luis Trimano, e J. Carlos. Copiou os mestres até encontrar o próprio caminho. "No início, era uma poluição violentíssima. Mas, com o tempo, você vai limpando, vai encontrando a essência da fisionomias", conta.
Loredano Cássio Silva Filho, nasceu no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 17 de julho de 1948. Seu pai era um oficial da Cavalaria e sua mãe uma dona de casa cearense, filha de um abolicionista que libertou os escravos do Ceará, antes mesmo de 1888. Seu pai estava de passagem pelo Rio, e Loredano acabou nascendo no Hospital do Exército, passando a infância entre os Estados do Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Em São Paulo, ainda adolescente, deixou a casa dos pais e seguiu para Santo André, na Grande São Paulo. Começou a carreira em 1968, no “Diário do Grande ABC”, que tinha acabado de virar diário. Entre 1968 e 1969, fez de tudo, atuou como revisor, repórter, diagramador, redator, secretário gráfico, secretário de redação e caricaturista.
Na capital, trabalhou como repórter na sucursal paulista do jornal “O Globo” onde conheceu, por intermédio de Elifas Andreato, o caricaturista argentino Luís Trimano, ilustrador do Jornal da Tarde (SP).
Mudou-se, em 1972, para o Rio de Janeiro, e, a convite de Raimundo Pereira (um dos donos do jornal) assumiu o cargo de ilustrador no recém-fundado semanário “Opinião”. Sem verba para fotografia, a direção decidiu que o jornal seria todo desenhado. Dono de um estilo único na criação de caricaturas, seu traço forte, preciso e dinâmico impressionava pela captação de gestos e impressões. Nas palavras de Millôr Fernandes, “filho de um oficial de cavalaria, Loredano desde cedo se sentiu obrigado a desmontar o ser humano”.
No Rio, colaborou, eventualmente, com o “Jornal dos Economistas”, ‘O Pasquim”, “O Globo”, “Jornal do Brasil” e com as revistas “Veja” e “Piauí”. Morou na Alemanha, França, Itália e Espanha, colaborando para grandes periódicos como: “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, “Die Zeit”, “La Repubblica”, “Il Globo”, “Libération”, “Magazine Littéraire” e “El País”.
No retorno ao País, em 1994, fixou-se novamente em São Paulo, trabalhando para os jornais “O Estado de São Paulo” e “Gazeta Mercantil”.
Pesquisador, Loredano escreveu livros sobre os cartunistas J. Carlos, Nássara, Guevara, Figueroa e Luis Trimano. Avesso aos avanços tecnológicos, até hoje ele afirma não saber trabalhar em computadores. "O original é nanquim e papel, um negócio anacrônico mesmo."
Loredano, hoje com 77 anos, divide o apartamento na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, com a mulher, Rosana Lobo, as filhas e cerca de 4.000 livros.
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