Coluna

O ESPAÇO MAIS SEGURO

Foto: Erol Ahmed / Unsplash

Nunca nos sentimos totalmente seguros em algum lugar. Podemos estar isolados em um lugar ermo, sem ninguém perto de nós, e sentimos uma insegurança. Podemos estar em uma casa coberta com vigilância extrema e, mesmo assim, a segurança nunca nos parece total. Ou, simplesmente, nos fecharmos em um cômodo com um acesso difícil e nos parece ser uma sensação de segurança débil e vulnerável. Mesmo nesses ambientes a segurança não é completa. Por que nos sentimos inseguros em estar em um canto, enquanto o mundo continua a funcionar?

Não podemos caminhar pelas ruas sem olhar, persistentemente, para os lados - a desconfiança nos mata. E esse viver inseguro não nos torna mais seguro e ficamos mais temerosos e com isso nossa segurança se esvai mais um pouco.

Essa insegurança é decorrente de nosso comportamento? Ela se amplia com a nossa imaginação? É claro que se pode dizer que queremos viver a vida e usufruir dela, fruto das nossas conquistas. No entanto, a exibição extrema atrai tudo aquilo que é desejável e o indesejável, também.

E qual seria o espaço mais seguro para viver?

É fato dizer, apenas em um conceito de provérbio, que a porta mais fechada é aquela mais aberta. Que o melhor lugar para se esconder é ficar à vista de todos.

No entanto, a porta aberta das redes sociais não nos faz mais seguros e nem essa porta se fecha se estamos conectados. Temos que nos ater ao fato de que exibir o que somos para todos, indistintamente, e não só para os amigos e conhecidos nos torna visíveis e mais inseguros. A vida virtual, em contraste com a vida real, transforma os ditados em outra perspectiva. Como manter a porta aberta da internet em uma porta fechada? Não é possível.

Portanto, o primeiro fato é que a visibilidade que nos esconde não é a ostentação, mas o viver para si, para o que nos faz bem. A grande pergunta seria: o que me faz sentir bem e o que me faz sentir bem com a aprovação de outros?

Esse é o grande embate da humanidade, ou parte dela. Há os que querem exibir suas conquistas para colocar em um patamar inferior aqueles que não têm o que têm. E há os que conquistam coisas mas demonstram para si mesmos e continuam a viver sua vida privadamente.

Queremos nos sentir seguros, mas nos transformamos em personagens inseguros, clamando por mais vigilância e, cada vez mais, perdendo nossa liberdade. Livres, todos, poderemos nos considerar visíveis e seguros, porque somente os invejosos tentarão nos atingir. E as armas dos invejosos são presumíveis e podem ser interceptadas.

À medida que evoluímos na sociedade, nos encerramos em condomínios, em carros blindados e evitamos caminhar pelas ruas com ares de despreocupação.

É um contrassenso. 

Não há o menor sentido em buscar a segurança quando tornamos a vida do outro insegura. Que pode, ele sim, se considerar seguro porque não tem perspectiva de futuro. E quando cerramos a porta para que outros alcancem suas perspectivas, progridam e venham a competir conosco, na verdade nos encerramos em quartos escuros e vida sem graça. 

Abrir essa porta de oportunidade a todos e lutar, igualmente, para que todos tenham é a porta mais segura que temos para nos proteger. Seremos todos visíveis… e seguros.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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