Coluna

ONU: fim do embargo a Cuba

- Athaliba, não foi a 1ª, a 5ª, a 25ª, a 29ª, a 31ª e, talvez a próxima, ainda não será a última vez que a Assembleia Geral das Nações Unidas - ONU - aprovará o fim do embargo a Cuba. Em 2/11, Dia de Finados, pelo 31º ano consecutivo, com placar de 187 votos a favor, dois contra e uma abstenção, a organização internacional deliberou por mais uma resolução contra o embargo econômico, financeiro e comercial imposto pelos Estados Unidos a Cuba, há 61 anos.

Por esmagadora maioria, a Assembleia Geral da ONU aprovou resolução que exige o fim de embargo dos EUA a Cuba. (Reprodução)  

- Marineth, infelizmente, todas essas 31 resoluções aprovadas ano-a-ano tem apenas valor simbólico. Não significa revisão do embargo. Quais países votaram contra e qual se absteve?

- Athaliba, ocê não sabe quais países votaram contra? Os Estados Unidos, claro, e Israel, o aliado de 1ª ordem dos interesses imperialistas. A Ucrânia, também coligada aos EUA desde o início da guerra com a Rússia, figurou no painel de votação com abstenção. Em 1962, o então presidente estadunidense John Kennedy - assassinado a tiros em 22/11 de 1963 (portanto, há quase 60 anos), em Dallas, no Texas - sacramentou o embargo a Cuba. Puro ato de vingança.

- Como assim, Marineth? E que consequências o embargo provoca à ilha caribenha? Mas, antes, porém, explica o que significa o Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro.

Bem, Athaliba, a citada data concebe ritual religioso da tradição cristã católica, tendo como objetivo relembrar a memória dos mortos, rezar pela alma deles. Para a doutrina católica, a alma de boa parte dos mortos abriga-se no purgatório, processando purificação. E, assim, necessita de orações pelo fim do sofrimento que as aflige. O Dia de Finados, na Idade Média, era conhecido como Dia de Todas as Almas, sucedendo-se ao Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro.

- Vamos agora, Marineth, à questão política, que é essencial, vital à vida humana. Vamos!

- Athaliba, a Revolução de Cuba, cujo marco é 1º de janeiro de 1959, pôs fim à submissão da ilha caribenha aos Estados Unidos; que oprimiam o povo explorando a prostituição em larga escala, tráfico de drogas e os jogos de azar. Os EUA faziam daquele país (paraíso do Caribe) o seu fundo de quintal. Aí, como vingança à nacionalização de empresas estadunidenses, após o triunfo da revolução, liderada por Fidel Castro, os EUA partiu para a retaliação.

- Como se dá o embargo dos EUA a Cuba, na prática, Marineth?

- Athaliba, governos dos Estados Unidos proíbem indivíduos, instituições governamentais, organizações subvencionadas com verbas públicas e empresas que operam no país e filias de empresas dos EUA em outros países de fazer qualquer tipo de negócio comercial com Cuba. Por exemplo, um país latino-americano foi ameaçado de sanções econômicas se fizesse acordo com Cuba, no setor da indústria automotiva. O que leva matéria-prima dos EUA não entra em Cuba.

- Mesmo sob sanções, Marineth, Cuba progride em questões básicas de desenvolvimento humano, como saúde e educação que, contraditoriamente, sufocam países ricos, né?

- Sim, Athaliba. Cabe registrar que, ano passado, no governo do mito pés de barro, na 30ª edição da votação pelo fim do embargo a Cuba, o Brasil se absteve. Na ocasião, a nossa pátria amada estava alinhada, escancaradamente, de forma servil à política do então presidente Donald John Trump. A situação foi exposta pelo embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, afirmando que, ao contrário de 2022, o voto este ano seria pelo fim do embargo. E assim se sucedeu.

- O que disse o diplomata brasileiro, Marineth?

- Argumentou ele, Athaliba, que “a rejeição do embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba desde 1962 é praticamente consenso internacional”. E acresceu que “intensificar as relações econômicas com Cuba é o caminho correto que devem seguir todos os países interessados em apoiar o desenvolvimento da ilha caribenha e melhorar as condições de vida de milhões de cidadãos cubanos”.

- Marineth, os EUA opõem-se à resolução da ONU com a cantilena deslavada de apoio ao povo cubano por um futuro com respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.

- É isso mesmo, Athaliba. Com essa ladainha, os EUA tenta esconder os seus verdadeiros propósitos de interferir na soberania de Cuba. O sistema norte-americano não é bom exemplo de garantia de direito democrático, que se sustenta explorando a indústria bélica. Não à-toa, o artista Roger Waters, ex-Pink Floyd, escancarou protesto no show realizado 1/11, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. Ele exibiu a foto de Joe Biden, presidente dos EUA, num telão, chamando-o de “criminoso de guerra”, por municiar Israel com bilhões de dólares contra a Palestina. Dúvida?

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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