Coluna

Tributo à rainha do rádio

Ela é fã da Emilinha/Não sai do Céser de Alencar/

Grita o nome do Cauby/E depois de desmair/

Pega a Revista do Rádio/E começa a se abanar”.

- Athaliba, prá ocê ter idéia do fenômeno Emilinha Borba, na era do rádio, cito “Fanzoca de rádio”, estrondoso sucesso do Carnaval de 1958. A marchinha é de Miguel Gustavo Werneck de Souza Martins, popularizada na voz de George Savalla Gomes, o Palhaço Carequinha. Dia 31/8 será celebrado o centenário de nascimento da cantora, nascida em 1923, no Rio de Janeiro, onde faleceu 3/10 de 2005. Tenho certeza não faltarão homenagens à eterna Rainha do Rádio.

- Lembro-me bem, Marineth, da marchinha. Tinha eu menos de 10 anos de idade. E ouvia dezenas de vezes ao dia. As rádios disputavam para saber qual a que mais executava a música.

- Pois é, Athaliba. A rádio, como principal meio de comunicação, na época, demarcava ou não o que era sucesso no mundo da música. Era a quantidade de execuções da música que consagrava o cantor/cantora e instituía o percentual de ganho de direito autoral. Assim, como nos dias atuais, claro, resguardada as devidas diferenças, as clicadas de visualizações em vídeos na internet abaliza o sucesso do clip musical. A Emília Savana da Silva Borba se fez uma das mais populares cantoras do século XX eclodindo dos programas de calouros nas rádios.

- Qual o programa no qual ela despontou, Marineth?

A cantora Emilinha Borba
A cantora Emilinha Borba, cujo centenário de nascimento será celebrado em agosto, é considerada eterna Rainha do Rádio. (Divulgação) 

- Athaliba, aos 14 anos, ela ganhou o 1º prêmio, na Hora Juvenil, programa da Rádio Cruzeiro do Sul. Mas, o teste de fogo foi no Calouros de Ary Barroso, obtendo nota máxima ao cantar “O x do problema”, música de Noel Rosa. Daí fez coro em gravações da gravadora Columbia. Formou a dupla As moreninhas, com Edila Luísa Reis, a Bidu Reis. Na Rádio Mayrink Veiga ganhou o mote Garota grau dez do apresentador César Ladeira. Casou, em 31/8 de 1957, com Artur Sousa Costa, filho do banqueiro gaúcho e ministro da Fazenda no governo de Getúlio Vargas. Teve o único filho, Artur Emílio.

- Cabe, Marineth, esmiuçar a Revista do Rádio. A publicação era a coqueluche do publico, com o ápice da leitura em Mexericos da Candinha, apinhada de fofoca de cabo a rabo. Explorava que certas cantoras se apresentavam com vestido transparente e sem calcinha. Nada semelhante a videoclipe de cantoras em trajes sumários, sem calcinha, simulando posição Kama Sutra, como atualmente. Artistas “brigavam” de forma surda o ensejo de aparecer em destaque na revista.

- São épocas com hábitos, costumes, distintos, Athaliba. Se estiver referindo-se a Carmen Miranda - por tabela, a Anitta -, saiba que aquela foi madrinha artística de Emilinha Borba. A levou para teste no Cassino da Urca, com vestido e sapatos plataforma que emprestou. Tornou-se uma das principais atrações da casa de espetáculos, sendo crooner da orquestra. Participou do filme “Banana da terra”, junto com Virginia Lane, a Vedete do Brasil, entre outros artistas. Atuou, também, nos filmes “Laranja da China” e “Vamos cantar”.

- Marineth, quais as músicas de sucesso da cantora?

- Athaliba, destaca-se “Quem parte leva saudade”, “Marcha do remador”, “Os meus olhos são teus”, “Chiquita bacana”, “Tomara que chova”, “Porta-bandeira”, entre outras. Ela acumulou o título de Rainha do Rádio com a Favorita da Marinha, rivalizando-se com Marlene, a Favorita da Aeronáutica. Fãs clubes de ambas, em programas de auditório, disputavam, com pitiatismo, qual era a maior cantora do Brasil. Emilinha foi considerada, por 27 anos, a Estrela Maior da Rádio Nacional. A campeã absoluta em receber correspondências de fãs, de 1946 a 1964.

- Marineth, é inegável a contribuição de Emilinha para a música brasileira. E recordo que o jornalista Moacyr Andrade, do Jornal do Brasil, dizia que ela não tinha voz fenomenal. Mas, “era a rainha absoluta de auditórios, estrela mais popular do rádio”. Nossa conversa ocorreu quando eu exercia a função de assessor de imprensa da gravadora Copacabana, década de 1970. E, à época, conduzi equipe de jornalistas do Rio de Janeiro, entre eles Leda Nagle e Flávia Villa-Boas, para conhecer a gravadora e saber como era a prensagem de discos em vinil, em São Paulo.

- Athaliba, ele tem razão. Ela arrastava multidões Brasil afora. Ovacionada em público igual ao líder comunista Luiz Carlos Prestes ou ao populista Getúlio Vargas, em comícios. Sua imagem inundava capas de revistas. Morreu aos 82 anos, sendo velada na Câmara de Vereadores do Rio e sepultada no Cemitério do Caju. Lá, Dia de Finados ou não, ainda é venerada Rainha do Rádio!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 07-06-2023 20:20:53 Jose Ribamar

    Eu era marlenista mas achava Emília um fenômeno. Bom ter alguém q a relembre