Coluna

PERDAS

As perdas são muitas e têm muitos nomes. Perdas sentimentais, perdas materiais, perdas de amigos, familiares, perdas têm muitos nomes e têm, também, muitos significados. Temos as perdas de tempo e temos as perdas do tempo. Um pequeno detalhe para um significado tão grande.

Vivemos um tempo em que o significado do tempo representa muitas perdas. Envolve este tempo difícil que vivemos em que nos privamos dos amigos e, ao que parece, estarão em números reduzidos, porque algumas perdas foram irreparáveis. Porque houve um tempo em que não notávamos pequenas diferenças de pensamentos entre nós, diluídas nas brincadeiras e nos encontros e reencontros amistosos. Atribuíamos a bobeiras, coisas de piadistas porque, na hora da verdade, fomos descobrir que as coisas não seriam bem assim. Perda de tempo.

Foto: Andrew Neel na Unsplash

E aí, pensamos que perda de tempo é tentar ouvir ou entender os pensamentos que povoavam ou que andavam pelas bocas e pelos becos de nossas mentes.

Divergir é perda de tempo porque, ao que parece, os pensamentos estão concretados, como se o verdadeiro apocalipse, a revelação, fosse a descoberta de quem somos nós.

Perdas são tantas, que perdidos estamos todos nós. A humanidade se perdeu, no sentido de tentar uma união de vontades, mesmo com as divergências, e segue sem um rumo. Parece uma volta no tempo. Se voltarmos à Idade Média veremos, com pequenas pontuações, que a humanidade, no fundo, não evoluiu, apenas a tecnologia nos deu um ar de modernidade. E essa tecnologia contribuiu para aproximar ideias e afastar contrários, em pontos tão distantes, que julgamos ser perda de tempo uma união no futuro.

Duas grandes guerras nos dividiram nos tempos modernos. A segunda acentuou uma divisão que permaneceu congelada no tempo, como se estivesse perdida como uma má lembrança. Ela acordou, e revelou essa grande diferença, e os derrotados se encontraram. E se descobriram muitos.

Muitos se esconderam na vergonha quando perderam o embate. Mas uma fênix os restaurou. Algo que julgávamos perdido e esquecido no tempo retornou. Está mais forte e, com certeza, aprendeu a não se perder. Assim como um vírus vai se adaptando e ficando entre nós.

Falamos sempre da esperança que nunca se perde. E podemos questionar isso, porque a esperança desses vencidos também existiu.

Mas, de repente, perdido, o mundo se ache. Um lado se sobreporá ao outro, realmente, esperando que o lado do bem vença. E, nesse caso, não vou perder o tempo de explicar qual é o bem, qual é esse lado.

De qualquer forma teremos perdas, e o importante é aprender nesse embate o preparo para o futuro, criando barreiras para que as perdas não ocorram mais.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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