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ATENTADOS

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A primeira vez que tive contato com a palavra atentado foi quando minha mãe tentava me alcançar com um chinelo para me fazer descer de uma árvore, onde eu e meu primo balançávamos, perigosamente, um galho, sem ter a menor noção do perigo.

Depois disso, havia, entre nós, garotos atentados, uma espécie de orgulho, de matreirice, de viver intensamente a infância.

Lendo a palavra nos jornais, hoje, e nos últimos tempos, penso que o horror da palavra está mais no medo, na acusação, e, principalmente, na particularização do termo. Atentados são muitos, e não as atitudes criminosas de um grupo, levados pela ideologia.

De posse de atitudes de atentado, a humanidade está cheia deles, de fato, e em potencial, de origem na Natureza, ou de origem na irresponsabilidade, e na ganância.

Muçulmanos radicalizam sua crença, com a intenção de fazê-la suprema pela supressão do direito do outro, e, de fato, a concretizam. Está no potencial, quando difundem pelas redes sociais, a modernidade da fofoca, dessa vez com respaldo nos compartilhamentos, nas mentiras, e nas mensagens, nem tão subliminares de preconceitos raciais e sociais. Na origem da Natureza, porque ela também é atentada, dos tsunamis, vulcões, tempestades, inundações. E aquelas na irresponsabilidade e na ganância, que chega ao ponto de matar, amargamente, um rio que tinha doçura no nome e na placidez com que corria rumo ao mar. São, aqueles que os cometem, terroristas em grau não tão midiático.

Os militantes do estado islâmico tornam, de uma maneira mais contundente, o horror de ser atentado, quando escolhem uma cidade símbolo para o Ocidente, o palco para sua barbárie. Mas não nos esqueçamos dos atentados que impomos e sofremos em nosso país, em nosso continente. Não se trata de mensurar um ou outro: todos são horríveis, e é importante que não nos esqueçamos deles.

Quanto à Natureza, ela segue o seu curso, porque como disse Montesquieu: “Um rio não existe para estar a serviço do Homem, isso é uma pretensão do ser humano”. Ele está lá, vivendo a sua vida e o seu curso, mexer com ele, permite que a Natureza se vingue. Assim como mexer com a natureza das culturas traz motivos para a vingança. A resposta aos atentados também é uma outra barbárie, que levam a outras.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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