Coluna

Itabira tem “rachadinha”, sim!

- Athaliba, na Câmara de Vereadores de Itabira, em Minas Gerais – cidade berço do poeta Carlos Drummond de Andrade -, tem “rachadinha”, sim! Exibindo documentos que diz comprovar a prática delituosa, o vereador Reginaldo das Mercês Santos reafirmou, na Sessão Ordinária de 30/6, a denúncia feita na reunião de 23/6, contra o presidente do parlamento, Heraldo Noronha. E arrematou pedindo à mesa diretora o imediato afastamento dele das funções. Como contei a ocê, anteriormente, o edil que ratificou a acusação contra o colega foi punido pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar por ter palmeado a bunda de uma servidora. Já imaginou essa safadeza?

- Sim, Marineth. Lembro-me que o Mercês foi flagrado pelas câmeras de vídeo apalpando a bunda da barnabé, com testemunho de outra colega. Também disse que dois outros vereadores de Itabira – Weverton Júlio de Freitas, vulgo Nenzinho; e Agnaldo Vieira Gomes, apelidado de Enfermeiro – estão cumprindo pena em domicílio, condenados por crime da “rachadinha”. Eles obrigavam funcionários do gabinete, a esmagadora maioria em cargo comissionado, a devolver parte dos salários. Os dois foram cassados. Perderam os mandatos.

vereador Reginaldo do Carmo
Reginaldo, punido por apalpar a bunda de servidora, mostra documento que diz comprovar a acusação feita a Heraldo de praticar rachadinha.

- Pois é, Athaliba. E é exatamente disso que o Mercês acusa o Noronha. Ele entregou aos demais parlamentares cópias de depoimentos que uma servidora prestou à Delegacia de Polícia Civil de Itabira. Também repassou cópias de recibos que evidenciariam depósitos de servidores feitos na conta bancária de Noronha. Além disso, o Mercês, que é chamado agora pelo apelido de Mão Nervosa, delatou o presidente da Câmara de Vereadores de utilizar de maneira indevida o veículo do parlamento. O carro, disse ele, é usado para transportar os eleitores de Noronha para Belo Horizonte, apresentando altíssima quilometragem, no vai-e-vem de Itabira à capital.

- Marineth, além da prática da “rachadinha”, vereadores de Itabira do Mato Dentro são “donos” dos cargos na estrutura da máquina administrativa. Eles “empregam” os eleitores e apoiadores das campanhas nos órgãos públicos, como “balcão de negócios”. Lá, na Câmara de Vereadores, tem a seção Banco de Currículos, com links para Editar currículo, Vagas de emprego e Cadastrar vaga de emprego. E a Prefeitura de Itabira funciona como “cabide de emprego”. Por conta dessa infame, indigna prática, expressiva maioria da população de Itabira sofre com a ineficiência na saúde, educação, saneamento básico, habitação, iluminação pública, entre outras necessidades básicas à boa qualidade de vida. A miséria em Itabira é vista a olho nu lá do céu!

- Athaliba, a Polícia de Itabira, que atendeu solicitação do Ministério Público, apura o caso da “rachadinha” à qual a bola da vez é o vereador Heraldo Noronha. Uma das principais peças do crime, em depoimento, confirmou a acusação. Demitida ano passado, a servidora contou à polícia que desde 2017 todos os funcionários do gabinete deveriam “contribuir para uma caixinha para a próxima eleição”. E que o “emprego” dela “foi acerto político”, devido o seu marido ter trabalhado como cabo eleitoral do parlamentar nas eleições.

- Tá vendo, Marineth! É como te falei. Os eleitores abiscoitam “emprego” nos gabinetes e apoiadores financeiros de campanha indicam ou ocupam órgãos públicos, como “pagamento de dívida de gratidão”. Mas, ocê sabe isso não é nenhum privilégio de Itabira. O MP, por certo, iria encontrar diversas irregularidades em muitas das Câmaras de Vereadores do país.

vereador Heraldo Noronha
Heraldo arrancou a máscara de proteção ao COVID-19 ao ser dedurado por Reginaldo de usurpar parte dos salários dos servidores do gabinete. A Polícia de Itabira tá na cola dele.

- Athaliba, a servidora contou que aquela era a condição para permanecer “empregada”. E, como secretária parlamentar, recebendo salário de R$ 2.200,00, ela depositava R$ 50,00 por mês na conta bancária de Noronha. Após “promovida” a assessora parlamentar passou a depositar o valor de R$ 500,00/mês, recebendo salário de R$ 4.500,00. O valor do depósito subiu para R$ 1.000,00/mês, ao ser “promovida” para Chefia de Gabinete. O salário era muito maior.

- Marineth, como o Heraldo Noronha, presidente da Câmara de Vereadores, reagiu?

- Athaliba, é bom que saiba que a servidora revelou que a demissão dela se deu pelo fato do marido discordar que ela fizesse empréstimo bancário de R$ 20.000,00 junto à Cooperativa dos Servidores Municipais – COSEMI – para repassar ao Noronha. O empréstimo seria deduzido dos valores mensais para a “caixinha” da campanha. Noronha negou as acusações e reafirmou que tudo não passa de vingança do Mercês, punido por ter apalpado a bunda de uma servidora.

- Marineth, as mulheres, tô convicto, irão expurgar as mazelas na Câmara de Vereadores, ao se fazer representar na Casa do Povo, vencendo as eleições de novembro. Ocê tem dúvida? Não acredita que elas são capazes? Acha que continuarão “buchas” dos currais eleitorais?

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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