Coluna

Abaixo os ataques à mídia! 

Em Brasília, Paulo Tonet Camargo, presidente da ABERT, na coletiva na qual foi lançado relatorio sobre Violações à Liberdade de Expressão
Em Brasília, Paulo Tonet Camargo, presidente da ABERT, na coletiva na qual foi lançado relatório sobre Violações à Liberdade de Expressão

- Athaliba, como avalia o resultado do Relatório Sobre Violações à Liberdade de Expressão no qual mostra que a imprensa, em 2019, sofreu quase 11 mil ataques diários pelas redes sociais e que isso, em média, representa sete agressões por minuto? Verdadeiro bombardeio, né?

- Ora, Marineth, a imprensa, em geral, não tá acima do bem ou do mal. E a crítica significa ação real de cidadania de quem observa na notícia qualquer desvio da informação, que é direito constitucional do cidadão à comunicação correta. Mas, no entanto, é necessário combater abusos que, sabemos, são praticados, principalmente, por agentes públicos com o objetivo de provocar descrédito à imprensa. Portanto, abaixo aos ataques orquestrados contra a imprensa! 

- Athaliba, como disse o ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, “o exercício concreto, pelos profissionais da imprensa, da liberdade de expressão, cujo fundamento reside no próprio texto da Constituição da República, assegura, ao jornalista, o direito de expender crítica, ainda que desfavorável e em tom contundente, contra quaisquer pessoas ou autoridades”.

- Marineth, o ministro decano do STF, desde 2007, manifesta a garantia do pleno direito do jornalista profissional ao exercício de sua atividade.

- Pois é, Athaliba. O relatório foi apresentado à imprensa 11/3, em Brasília, encomendado pela ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - à Bites, empresa de consultoria que faz o monitoramento do universo digital. Ano passado, a empresa contabilizou o registro de 130 milhões de brasileiros com acesso à internet que produziram 6,2 bilhões de posts no Twitter, dos quais 39,2 milhões trouxeram conteúdos com a combinação das palavras “mídia”, “imprensa”, “jornalista” e “jornalismo”.

- Marineth, traduz isso em miúdos!

- Athaliba, daquele total, 3,2 milhões de posts foram de perfis e sites mais conservadores, com xingamentos e expressões que tentaram desacreditar o trabalho da imprensa. O somatório de ataques com viés ideológicos foi de cerca de quatro milhões de postagens negativas. Dentro do Poder Legislativo, na Câmara dos Deputados, as legendas PSL e PT lideraram as postagens sobre a mídia. Do total de 4.506 posts, 1.575 foram do PSL e 1.156 do PT.

- Marineth, então o PSL e o PT estão polarizados na liderança dos ataques à imprensa?

- Athaliba, segundo a direção da Bites, “os indicadores revelaram que a ação contra a mídia não está restrita a um universo particular de apoiadores da direita ou da esquerda política, mas àqueles que não aceitam o contraditório”. Ou seja: quem não gosta mete o pau.

- Eita trem doido, né Marineth?

- Athaliba, as agressões físicas, desde socos, pontapés e balas de borracha, continuam sendo a principal forma de violência não-letal. Trinta jornalistas de rádio e TV do sexo masculino foram os principais alvos, com maior incidência na Região Sudeste. Os autores das agressões são principalmente políticos ou ocupantes de cargos públicos, seguidos de jogadores de futebol, torcedores e técnicos nas coberturas esportivas. Registra o caso de dois jornalistas assassinados em Maricá, no Rio de Janeiro. As mortes não estão contabilizadas no relatório.

- Marineth, o Brasil sempre esteve entre as nações perigosas para a profissão de jornalista.

- É isso mesmo, Athaliba. Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, entre 180 países avaliados, o Brasil figura na posição 105 no ranking de liberdade de imprensa. Por sua vez, o Comitê para Proteção dos Jornalistas coloca o Brasil na nona posição na lista dos países que possuem mais crimes contra jornalistas sem solução.

- Marineth, esse estudo revela claramente o atraso no qual o Brasil está mergulhado.

- Sim, Athaliba. A direção da ABERT se disse preocupada com o aumento de 15% sobre as decisões judiciais de censura ao jornalismo. E, claro, apontou que essas decisões contrariam o entendimento do Supremo Tribunal Federal, contrário à censura prévia na publicação de matérias na mídia.

- Marineth, essa relação imprensa e público é complexa e merece profunda e permanente discussão. As instituições representativas dos jornalistas devem estimular o debate diretamente com estudantes de Comunicação e com os trabalhadores em geral. É imperativo que a população saiba qual é o papel da imprensa e qual a importância que tem para a sociedade. Afinal, é preciso exorcizar os demônios, em ambos universos, que infernizam a vida da sociedade brasileira. 

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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