Coluna

A bruxa do 666 de Alucard

- Athaliba, a crônica Código do demônio na FCCDA, sobre a instituição cultural que leva o nome do saudoso poeta Antônio Crispim e que tem a numeração satânica 666 no endereço postal do imóvel, tá inflamando a retrógada Alucard do Mato Dentro. Imagine meu amigo, o povo está em alvoroço querendo saber quem é a bruxa serva de satã que habita o imóvel e cujas mandingas que faz resultam em fracassos. É ti-ti-ti prá lá e ti-ti-ti prá cá. Também deflagrou a discussão sobre a imoralidade da dupla função exercida pelo Boca de Caçapa, que acumula o mandato de vereador com a de presidente do Metabase, o sindicato dos operários da Yale S/A.

- Ora, fiel amiga, Marineth, minha sombra, não faço a menor ideia de quem quer que seja a bruxa do 666 da FCCDA. Lá no boteco do...

- Athaliba, desculpe-me interromper a tua revelação, mas tem outra questão que a crônica desencadeou e que deixou boa parte da mulherada de Alucard phuta da vida. É bem verdade que outra parcela delas te aplaudiu e promete te enviar um ramalhete de flores na redação do jornal O Folha de Minas. Na crônica você disse que as mulheres alucardeanas precisam “tomar vergonha na cara”, assim como as das diversas cidades da Região do Médio Piracicaba e adjacências, além de Conceição do Mato Dentro, berço da tua linha materna, no sentido delas lutar de maneira intransigente para conquistar a inclusão nos parlamentos e nas demais áreas do poder público.

Diz a lenda que a bruxa, em noite de lua cheia, namora com o vampiro no Pico do Amor
Diz a lenda que a bruxa, em noite de lua cheia, namora com o vampiro no Pico do Amor. 

- Marineth, então, pela ordem, voltamos ao caso da bruxa do 666 do imóvel da instituição cultural de Alucard. Depois falamos da patifaria da dupla função exercida pelo Boca de Caçapa e, por fim, da apatia, indiferença, insensibilidade das mulheres na falta de atuação delas na política.

- Está bem, Athaliba!

- Bom, Marineth, como articulava antes, no boteco do Tavico, perto da igrejinha do Rosário, lá na Penha, entre uma rodada e outra de cerveja, disputada no jogo de purrinha, num grupo de amigos, Talarico jurava de pés juntos que revelaria quem é a bruxa do 666 da FCCDA se fosse derrotado. No jogo, cada participante usa três moedas ou palitos escondidos na mão e deve advir o número total de pontos dos jogadores. Acontece que Talarico é viciado na tal purrinha, já tendo sido campeão da modalidade do jogo em torneio on-line, pela Internet. É difícil vencê-lo!

- Athaliba, ele afinal revelou quem é a bruxa do 666 da FCCDA?

- Qual nada, Marineth. Ele prometeu que fará a revelação no próximo encontro dos amigos.

- Acho bom, Athaliba, que o Talarico revele logo quem é a bruxa. Tem mulheres vestindo a carapuça. O caso é debatido em programas de rádio, sendo badalação dominante nas padarias, supermercados, casas lotéricas, nas lojas do comércio da João Pinheiro e no mercado municipal. E qual é a sua crítica para a dupla função do Boca de Caçapa?

- Marineth, o Boca de Caçapa é prepotente e não está nem aí para o ridículo. Na moita, ele deve dar gargalhadas da indecência que impõe ao povo desatento de Alucard. Usa o dinheiro do Metabase para pagar anúncio do sindicato na mídia e, assim, cala a boca de parte da imprensa. A carta aberta que ele enviou com papel timbrado do Metabase aos sindicatos dos trabalhadores do setor extrativo, avocando para “sermos uma só voz”, na abertura da campanha salarial da categoria, tem erro gramatical grotesco. Ele acaba misturando alhos com bugalhos.

- Uai, Athaliba, o Boca de Caçapa tá à frente da luta salarial e ao mesmo tempo legislando na Câmara de Vereadores, também fiscalizando as ações do prefeito Esponjinha?

- Isso não é contraditório, Marineth? Pode ser legal, mas é imoral. Mas, o Boca de Caçapa é polivalente, multifuncional. Chupa cana e assovia ao mesmo tempo. É mágico. Engole espada e esconde cobra.

- Athaliba, e sobre o fato das mulheres de Alucard ter ficado phutas com o puxão de orelha que deu dizendo que elas “precisam tomar vergonha na cara”. Cê jogou pesado, heim!!!

- Que nada, Marineth. Sabemos o quanto o sistema atua para encabrestar as mulheres, na tentativa de afastá-las da vida política. As usam como “vaquinhas de presépio” ou então como “laranjas”. Veja o caso do PSL, em Minas Gerais, do qual o ministro do Turismo, Marcelo Antônio, é acusado de ter orquestrado toda a trama. Peco por excesso, amiga, mas não por omissão!

- Pois é, Athaliba. O mito pés de barro debandou do PSL e cria o Aliança pelo Brasil, partido de extrema direita que tem o nº 38, alusivo ao calibre do revólver 38, conhecido no país como “três oitão”. E ele mantém o ministro do Turismo no governo. Que patifaria. Não acha?

- Marineth, até entendo que as mulheres sendo maioria na população de Alucard estejam ausentes dos cargos da estrutura política. Mas daí a aceitar passivamente essa situação é a mesma coisa que assistir “a banda passar” ou ver “Carolina na janela”. Cê não faz omelete sem quebrar ovos, né? Então, a mulherada de Alucard e das cidades da Região do Médio Piracicaba, bem como de Conceição do Mato Dentro, tem que ir à luta para arrebentar as correntes que as prende e se inserir no poder político. Afinal, será verdade ou não o que prevê o sociólogo italiano Domenico De Masi, que “as mulheres vão dominar o mundo até 2030?” Quem viver verá!!!  No atual contexto ofereço às mulheres “Lícitos direitos”, meu poema que dedico à negra e pescadora Maria Felipa de Oliveira, que comandou 40 mulheres na luta contra invasores na Ilha de Itaparica e é reconhecida como heroína da Independência da Bahia. Quero ver as mulheres semeando o vento na cidade e bebendo a tempestade. Todas à luta, já!!!

“Por anos, séculos, minha existência foi vazia;
Na política não me metia, em casa, tudo fazia.
Aos amantes e patrões, o que pediam, servia,
E, assim, conformadamente, o destino seguia.

Do ventre pari várias gerações à pátria amada,
Alimentando desejo, prazer, sem ser venerada.
Apenas “artefato” útil na sociedade controlada
Por bicho macho e, em poema, tão-só versada.

Mas, sob o vento enfurecido da transformação,
Da imperativa mudança nas benções de Iansã,
Desatei amarras que me prendiam na servidão.

Aprendi que, combatendo, minha luta não é vã
E renasço a cada batalha cheia de disposição,
Certa de conquistar lícitos direitos no amanhã”.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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