Prisão de aliado de Nikolas expõe elo do PL em esquema bilionário de corrupção na mineração
Investigado pela PF, Gilberto Carvalho circulava com Bolsonaro e Nikolas; caso reforça debate sobre PEC da Blindagem

Belo Horizonte - A Operação Rejeito, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na quarta-feira (17), revelou um ponto de contato direto entre o alto escalão do Partido Liberal (PL) e um esquema bilionário de corrupção na mineração em Minas Gerais. Entre os presos está Gilberto Henrique Horta de Carvalho, de 38 anos, apontado como lobista político da organização criminosa investigada.
Carvalho não era um personagem periférico: circulava com frequência ao lado de Nikolas Ferreira (PL-MG), de quem foi aliado e assessor de campanha, e tinha proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro. Fotos de bastidores do PL, viagens aos Estados Unidos e até encontros partidários em Belo Horizonte mostram o lobista em meio às figuras mais influentes do bolsonarismo.
Segundo a PF, o grupo teria fraudado licenças ambientais e usurpado minério de ferro em larga escala, causando “graves consequências ambientais e risco de desastres sociais e humanos”. A estimativa é de um lucro ilícito de R$ 1,5 bilhão, com projetos que poderiam alcançar até R$ 18 bilhões.
Do círculo político à prisão preventiva
Carvalho foi candidato à presidência do Crea-MG em 2023, campanha em que recebeu apoio público de Nikolas e Jair Bolsonaro, mas acabou derrotado. Também foi assessor do vereador Uner Augusto (PL), exonerado neste mês após sete meses na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Nas redes sociais, apresenta-se como “empresário, cristão e de direita”. Em sua página, ostenta viagens, eventos partidários e registros próximos a políticos do PL, como Bruno Engler e vereadores bolsonaristas da capital mineira.
Em despacho judicial, Carvalho é descrito como “grande articulador da ORCRIM junto aos órgãos ambientais e administração pública, tendo atuado principalmente na Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais e na Assembleia Legislativa do estado”.

Relação com a PEC da Blindagem
O caso ganha peso político em meio ao avanço da chamada PEC da Blindagem, aprovada na Câmara em dois turnos nesta semana. O texto propõe que deputados e senadores só possam ser processados com aval do Congresso, além de permitir que o plenário barre prisões em votação secreta.
A ligação de Carvalho com Nikolas e Bolsonaro, ambos expoentes do PL, ajuda a explicar por que setores da legenda se mobilizam em defesa de medidas que ampliam a proteção parlamentar. Se investigações como a Operação Rejeito atingem figuras ligadas diretamente ao núcleo político bolsonarista, a PEC aparece como um instrumento de contenção contra o cerco do Judiciário.
Delegado da “facada” também preso
Além de Carvalho, a PF prendeu Rodrigo de Melo Teixeira, ex-superintendente da instituição em Minas e responsável em 2018 pelo inquérito do atentado contra Jair Bolsonaro em Juiz de Fora. O envolvimento de Teixeira reforça a dimensão política da operação, que cumpriu 79 mandados de busca e apreensão e 22 de prisão preventiva.
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