Brasil

Coronel critica “silêncio ensurdecedor” do Exército sobre acampamentos golpistas

Réu no STF, Márcio Nunes negou envolvimento com carta que pressionava o Alto Comando

Marcello Casal Jr / ABR - 

Brasília - O coronel Márcio Nunes de Resende, um dos réus da trama golpista investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta segunda-feira (28) que houve um “silêncio ensurdecedor” do Exército diante dos acampamentos montados por manifestantes em frente aos quartéis após a eleição de 2022.

Resende integra o núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), composto por nove militares e um policial federal. O grupo é acusado de promover ações práticas em prol de um golpe de Estado e de tentar convencer o Alto Comando do Exército a aderir ao complô. O depoimento foi colhido pelo juiz auxiliar Rafael Tamai, do gabinete do ministro relator Alexandre de Moraes.

Durante a audiência, o coronel criticou a falta de posicionamento oficial da instituição à qual pertence:

“Houve um silêncio ensurdecedor por parte do Exército. Não gostaria de estar criticando a instituição da qual eu tenho muito orgulho de ter servido, mas, com aquele pessoal acampado na frente dos quartéis, achando que teria alguma coisa, seria importante um posicionamento”, declarou.

Reunião e carta

Márcio Nunes de Resende foi acusado pela PGR de ter participado de uma reunião com militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como kids pretos, para redigir uma carta destinada a pressionar a cúpula militar. O encontro, segundo a investigação, ocorreu em novembro de 2022, já após o segundo turno da eleição presidencial.

Questionado sobre o conteúdo e propósito da reunião, o coronel negou qualquer intenção golpista e afirmou que o evento foi apenas uma confraternização entre amigos, sem pauta definida ou organização formal.

“Esse evento foi informal, uma reunião de amigos. Eu tinha cedido o espaço, que não é meu, é do meu pai”, disse.

O militar também negou ter conhecimento da suposta carta elaborada durante o encontro.

A menção aos kids pretos — apelido dado aos integrantes das Forças Especiais devido ao uniforme — tem sido recorrente nas investigações, que apontam tentativas de envolvimento desses grupos operacionais em iniciativas que extrapolam a legalidade institucional.

A PGR acusa o núcleo 3 de se envolver em ações de campo, fomentar a desestabilização institucional e buscar apoio entre os generais para romper a ordem democrática após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.

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