Brasil

Réu por tentativa de golpe, general diz que ouviu apenas “monólogo” de Bolsonaro

Estevam Theóphilo depôs ao STF e afirmou não ter recebido proposta de ação ilegal

Marcello Casal Jr / ABR - 

Brasília - O general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, réu na ação penal sobre a tentativa de golpe investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), prestou depoimento nesta segunda-feira (28) e confirmou ter se reunido com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada. Segundo o militar, o encontro foi marcado por um desabafo do então chefe do Executivo.

“Foi um monólogo”, disse o general, ao descrever o que classificou como uma conversa sem proposta formal de ação.

Teóphilo integra o chamado núcleo 3 da trama golpista, composto por dez réus — nove militares e um policial federal. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), esse grupo teria realizado ações práticas para viabilizar o golpe, além de tentar convencer o alto comando das Forças Armadas a aderir ao plano.

No processo, Teóphilo é citado em mensagens trocadas entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator, e o tenente-coronel Bernardo Romão Correa Netto. Em uma delas, Cid escreve que o general “quer fazer, desde que o PR assine”, em referência ao ex-presidente.

Para a PGR, a frase indica que o general estaria disposto a apoiar a ruptura institucional, desde que houvesse uma ordem formal do então presidente. O encontro no Alvorada, segundo as investigações, ocorreu em 9 de dezembro de 2022, poucas semanas antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante o depoimento, Teóphilo disse que estava apenas cumprindo uma determinação do então comandante do Exército, general Freire Gomes, que o designou para ir ao encontro com Bolsonaro, já que ele próprio estava fora de Brasília.

“Jamais o general Freire Gomes ia mandar alguém para conversar com ele [Bolsonaro] que quisesse acirrar os ânimos, ao contrário”, afirmou Teóphilo, ao destacar que foi como uma espécie de emissário institucional.

“Não me foi apresentado qualquer documento nem me foi proposto nenhuma coisa ilegal ou inconstitucional, de forma que eu pudesse aderir ou não, enfatizo isso aqui”, declarou o general.

Teóphilo também negou envolvimento com outros membros do grupo acusado, dizendo que não participou de nenhuma articulação para interferir no resultado das eleições de 2022.

Interrogatórios do núcleo operacional

O STF ouviu nesta segunda-feira os réus do núcleo 3, apontado como o setor operacional da tentativa de golpe. Eles teriam atuado diretamente em campo para viabilizar o plano golpista, segundo a PGR, inclusive tentando “neutralizar” autoridades contrárias à ruptura.

Os réus interrogados foram:

  • Bernardo Romão Correa Netto (coronel)

  • Estevam Theóphilo (general)

  • Fabrício Moreira de Bastos (coronel)

  • Hélio Ferreira (tenente-coronel)

  • Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel)

  • Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)

  • Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)

  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel)

  • Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel)

  • Wladimir Matos Soares (policial federal)

A PGR sustenta que a resistência do comandante Freire Gomes em aderir à conspiração foi um dos fatores decisivos para o fracasso da tentativa de golpe, que teria sido planejada para impedir a posse de Lula.

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