Coluna

BOLSONARO E OS SÍMBOLOS FASCISTAS

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos - DRD.

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Bolsonaro chamou o secretário de comunicação no Gabinete do Ódio - uma salinha escura nos fundos do Palácio do Planalto - e foi logo berrando:

- Que porra é essa de 70 por cento???

- É o percentual de brasileiros que estão contra o seu governo, presidente.

- Isso é uma mentira deslavada e enxaguada! O povo está do meu lado. Ou melhor, embaixo de mim. Eu estava no helicóptero que aluguei com o meu cartão corporativo…

- Eram menos de 300 pessoas, presidente! - atalhou o secretário. - Até os “300 pelo Brasil”, da Sara Winter, tinha menos de 30 pessoas.

- Precisamos reverter essa situação. Vamos ativar nossa célula ucraniana e criar o PNB, urgente!

- PNB? - questionou Fabio Wajngarten.

Arte - Nani

- Partido Novo Brasileiro, meu novo partido de extrema direita.

- Que é isso, presidente! O Brasil é um país democrático. Isso não vai passar. O senhor já tentou criar o “ Aliança pelo Brasil”, outro partido de direita, na verdade, um “puxadinho” do Centrão, e não conseguiu.

- Eu ainda não tinha “molhado a mão” dos nobres colegas do Centrão. Agora é diferente: ele já ganharam a Sudene, o Banco do Nordeste, as Obras contra a Seca e agora o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

- Presidente, o senhor entregou uma diretoria com orçamento de quase 30 bilhões na mão dos pilantras do Centrão?!! Assim seu partido não decola mesmo. E depois, com essa sigla vão chamar o seu partido de “Partido Nazista Brasileiro”. Vão acusá-lo de flertar com o fascismo.

- Esse negócio de fascismo e nazismo é invenção dessa mídia marronzista!- gritou.

- Calma, presidente! O senhor está delirando. Tome o seu leite. 

- Eu odeio leite!

- Na verdade, presidente, são os seus apoiadores que, fazendo apologia a tortura, a hipocrisia do conservadorismo religioso, fazendo discurso de ódio, racismo, homofobia, exaltando facções milicianas e enaltecendo o império Norte Americano quem dá motivos para a imprensa classificar o seu governo de fascista. E, convenhamos, o senhor colabora: Primeiro, o slogan patriota da sua campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” tem inspiração clara em uma frase bastante conhecida entre os nazistas. Na Alemanha de Adolf Hitler, um dos lemas mais repetidos era “Deutschland über alles”, que significa, em português: “Alemanha acima de tudo"; depois aquela saudação nazista toda manhã, em frente ao cercadinho; e mais, o seu Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, citou em vídeo, quase ipsis literis, uma frase famosa de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista. Pior, a música de fundo é um trecho da Ópera Lohengrin, de Richard Wagner, obra que Hitler disse ter sido decisiva em sua vida; depois, o senhor compartilhou em sua página oficial um vídeo da SECOM com ações do governo federal para combater o coronavírus, um lema associado ao nazismo, em que um homem diz: “Melhor um dia como leão do que cem anos como ovelha”, frase atribuída ao líder fascista Benito Mussolini; e agora, esse negócio de beber leite em celebrações. O leite era usado como símbolo de pureza genética, de supremacia racial e força nazista.

- Não tem nada disso. Zero. Manda buscar as bandeiras dos EUA e da Ucrânia que estavam na passeata do domingo, taokey?

- Para quê, presidente?

- Vamos nos inspirar nelas para criar a bandeira do nosso partido. O que você acha de colocarmos nela uma bota pisando o pescoço de um negro?

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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