Coluna

PARABÉNS, JAGUAR!

Conheci Jaguar quando ele ainda bebia, e muito (hoje ele só bebe cerveja sem álcool). E eu, pouco. 

“Tenho uma memória de merda. Não consigo lembrar quem comi ontem”. 

Quando eu, brincando, disse essa essa frase para o Jaguar na mesa de um boteco, ele emendou: “e é um humorista de merda, além de memória fraca, não bebe nem fuma”. 

JAGUAR

Os três piores defeitos de um humorista, segundo ele.

Anos depois, quando encontrei com ele no Bar Degrau, no Leblon, lembrei dessa conversa que tivemos, no Bar Luiz, na Rua da Carioca, no Rio. Ele não lembrava.

Jaguar, não lembra nem quando faz aniversário. Pudera, ele só faz aniversário de quatro em quatro anos, no dia 29 de fevereiro. É bissexto.

“Bi é o cacete!!" , diria.

Mas nós lembramos. Afinal, Jaguar é um personagem inesquecível. Desde que decidiu deixar o emprego de escriturário no Banco do Brasil para se tornar cartunista,  Jaguar passou a fazer parte da elite do desenho de humor  brasileiro.

A mais importante obra desse carioca nascido no bairro do Estácio, em 1932, foi, sem dúvida, a criação, junto com Tarso de Castro e Sérgio Cabral do semanário “O Pasquim”, em 1969.

Mas, antes disso, quando ainda era Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe,  o cartunista fez coisas que colocaram sua biografia na história do humor do país. 

Em 1952, incentivado por Sérgio Porto (1923-1986), seu chefe no banco, conseguiu publicar um desenho na coluna de humor “Penúltima Hora”, de Leon Eliachar (1922-1987), no jornal “Última Hora”, do jornalista Samuel Wainer.

JAGUAR - POR NEI LIMA

Nessa época (1957), inicia a carreira como cartunista, ainda assinando como Sérgio Jaguaribe, na revista “Manchete”, onde, por sugestão do cartunista Borjalo (1925-2004), adotou então o pseudônimo de Jaguar, com o qual viria a ser conhecido internacionalmente. 

Dois anos depois, a convite de Carlos Scliar (1920-2001), passa a colaborar com a revista “Senhor”, onde conhece Ivan Lessa (1935-2012) e Paulo Francis (1930-1997).

Na década de 60, começou a trabalhar no jornal “Última Hora”, onde também trabalhavam Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Foi lá que, tanto Jaguar como Sérgio receberam o convite de Tarso para juntos fundarem “O Pasquim”. 

Publicou ainda nas revistas “Semana”, “Civilização Brasileira” e “Pif-Paf”; nos jornais “Cartoon”, “Tribuna da Imprensa”, “O Dia” e “Jornal do Brasil”. 

Com  o fim do “O Pasquim”, trabalhou como editor do jornal carioca “A Notícia” e depois como colunista de “O Dia”, onde ficou por 30 anos.

Escreveu os livros “Átila, Você é Bárbaro” (Civilização Brasileira), de 1968; e “Confesso Que Bebi: Memórias de um Amnésico Alcoólico” (Editora Record), de 2001.

Em 1999, juntamente com Ziraldo e outros remanescentes d´ “O Pasquim”, criou a revista de humor “Bundas”, que publicou nomes expressivos como Millôr Fernandes, Luís Fernando Veríssimo, Cláudio Paiva e Adão Iturrusgarai, entre outros, mas teve vida curta.

Como carioca-símbolo do Rio de Janeiro, recebeu a Medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal, em 1998 (devolveu em 2006, quando soube que a mesma homenagem fora concedida a Roberto Jefferson, político pivô do Mensalão, cassado por corrupção).

Em 2004, recebeu o Prêmio Carioca Nota 10, do movimento O Melhor do Rio São os Cariocas.

Como um Dom Quixote, Jaguar continua destilando (hic!) sua verve nas páginas do jornal “Folha de São Paulo”.

Com ou sem álcool.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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