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A POLÊMICA NANA CAYMMI

Nana Caymmi
Nana Caymmi (Foto: Ediel Ribeiro/Arquivo)

Rio - Um dia, num papo com a cantora carioca, Nana Caymmi, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, ela me disse: “ tudo o que você faz, escreve ou canta tem que provocar controvérsias, mexer com os babacas. Isto prova que você disse alguma coisa relevante”.

Nana sempre foi assim, polêmica.

Digo isso, para entender (não defender, a obra dela já faz isto), a entrevista recente que a cantora deu à “Folha de São Paulo”.

Em uma hora e dez minutos de entrevista, Nana falou 89 palavrões. É o seu jeito. 

Falou, entre outras coisas, de ópera, sua paixão:

“Estou fazendo uma despedida, sem ir embora. Acordei pro mundo: não tenho muito tempo. Quero ouvir o que não podia ouvir...Quero ouvir ópera...Minhas filhas são ignorantes em ópera. Nunca tive um marido que gostasse. Uns merdas. 

Falou dos vários maridos que teve - uns dez, mas ela não confirma:

Prefere dizer que “foi uma porrada”.

Eleitora de Bolsonaro, defendeu o presidente:

“É injusto não dar a esse homem um crédito de confiança...Só de tirar PMDB e PT já é uma garantia de que a vida vai melhorar. Agora vêm dizer que os militares vão tomar conta? Isso é conversa de comunista. Gil, Caetano, Chico Buarque. Tudo chupador de pau de Lula. Então, vão pro Paraná fazer companhia a ele. Eu não me importo.”

Sobre a Bahia:

“Eu acho difícil voltar a me apresentar na Bahia. A Bahia não tem nada, é PT… Meu pai já não tinha mais saudades da Bahia. Ele ficou muito triste na última vez em que foi lá”.

Sobre o futuro da família:

“Tenho medo do futuro dos meus netos e bisnetos...Fico muito triste”.

Sobre o pai Dorival Caymmi:

“Já esqueceram dele. Tenho certeza absoluta. Sabe por que não se esquecem totalmente? Porque tem aniversário de morte, tem sempre uma macumbeira que se lembra de uma música qualquer, ou se lembram em 2 de fevereiro, dia de festa no mar. Tem sempre uma merda assim.”

Falou da influência da música em sua vida:

“Eu já fazia música com quatro anos. Meti bedelho quando vivi com João Donato, com Gil, com Claúdio Nucci. Quer dizer, eu comia a canção popular brasileira e fazia parceria. Na música e na cama.”

Fala de Alice, filha de Danilo Caymmi, com tristeza:

“Ela tem uma ótima voz. Eu tinha muita esperança de que ela fosse pro meu caminho. Achei que Alice ia dar mel, mas não deu.”

Nana queria lançar o CD dedicado à obra de Tito Madi com o compositor ainda vivo. Não deu tempo: 

“É você fazer a festa sem o aniversariante. Mas ele ouviu, porque o Zé Milton mostrou. Ele sabia que um dia ia sair”.

Sobre Elis Regina, Clara Nunes e sobre uma música de Tito Madi gravada por Wilson Simonal, que fez grande sucesso nos anos 1960:

“Acho que Tito estava numa fase de ficar na praia vendo bunda de mulher. E a música é boa pra cacete. Simonal deve ter tirado um troco. Agora, Simonal é referência pra alguém? Conheci a arrogância dele, andava com escolta. Era muito vaidoso. Vi isso na Elis [Regina] também. Achavam que Elis era toda aquela santidade. Santidade era Clara Nunes, boníssima, uma pessoa que não tinha medo de quem fizesse sucesso. Elis não podia ver uma cantora nova que se arrepiava.”

Sobre fossa, rótulo que ela acabou assumindo:

“Eu não tô nem aí pra expressão. Quer nome mais escroto do que bossa nova? O que a gente vai fazer contra a ignorância?”

Adorava os sambas-canções que tocava nas boates:

“Eu era boateira, dançava que nem uma filha da puta. Saía com as amigas pra pegar homem.”

Sobre o amigo Emílio Santiago:

“Eu era cama e mesa com Emílio. Se a bicha não fosse bicha, eu estava casada com ela. E não teria morrido, porque eu ia levar para o médico a porrada. Comia feijoada à noite, achava que não existia colesterol. Ia jantar depois dos shows e comia verdadeiras bundas de vaca. Foi uma perda pra mim fodida.”

Lamentou, também, a perda da amiga querida, Miúcha:

“Essa filha da puta... Não parava de fumar”.

Sobre o apartamento no Leblon e a tristeza pelo acidente de moto do filho João Gilberto que ficou com sequelas neurológicas graves:

“Eu sou a companhia dele, dou vida a ele. Ele adora ver o Datena, e eu tenho que ver também…Vou vender o apartamento e torrar o dinheiro. Até eu morrer torro essa porra toda. Minhas filhas que se fodam. Eu não aturei elas? Não estou há 30 anos com esse acidentado? Ele vai ter Pequeri. É onde eu quero que ele fique. É a única maneira de ele ter vida saudável...Chego lá e é uma revolução. Os pássaros ficam putos, porque eu canto as óperas junto com os discos.”

Ela diz que não tem paciência para turnês, aeroportos etc. Mas adora estúdios:  

“Coisa mais gostosa de fazer é gravar. Todo cantor que se preza gosta mais de estudio.” 

Sobre o ex-marido Gilberto Gil, que disse preferir palcos: “Gil é maluco, adora aparecer. Se pudesse, dormia no palco. E ele tá cansado. Chega, está cantando há séculos e aos gritos. Eu falei: ‘Gil, não grita’, ‘Gil, não grita’. Mas conselho não se dá. Por que Caetano tem a voz que tem, a mesma desde que nasceu entre as pernas de dona Canô? Não há possibilidade de ele dar um grito. Só dá grito quando ele tá furioso com a Paula [Lavigne] ou se é pra falar de jornalista.”

Sobre acordar cedo:

“Às 9 da manhã eu não sou mulher, eu sou veado.”

Sobre sua missão na música popular brasileira:

“Já dei régua e compasso. Agora, é como diz meu ex-marido: Aquele abraço!”

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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