Coluna

DUAYER, UM MINEIRO BOM DE TRAÇO

Da esquerda para a direita: Jesus Rocha, Duayer, Nani e Coentro. Em pé, atrás: Guidacci (Foto: Divulgação)

Rio - Quem nunca leu o “Pasquim”, não pode ser considerado carioca. 

Mas, mesmo quem não é carioca ou nunca leu o semanário, já ouviu falar em Duayer.

Afinal, esse mineiro da pequena cidade de Tombos, na Zona da Mata de Minas, já circulou muito por aí.

Começou como fotógrafo na revista “Manchete”. Passou pelo “Jornal do Brasil”, “Pasquim”, “Última Hora”, “Diário de Notícias” e “A Crítica”.

Pelas revistas “Playboy”, “Status”, “Visão” e pela “MAD” brasileira, entre outras.

Ganhou destaque e prêmios em publicações internacionais como “World Press Review”, dos EUA; “Free Press”, da Holanda; e “Liberacion”, da França.

Mas, foi no jornaleco dos beberrões de Ipanema que ele mais se destacou.

Pertencia a safra mineira de cartunistas que tomaram de assalto (ops!) o hebdomadário carioca. Talentos como Henfil, Ziraldo, Nani, Zélio, Lor, Nilson e outros. 
Duayer começou como fotógrafo.

Um dia, Henfil viu um desenho seu que ia para o lixo, e ficou impressionado com o estilo sarcástico e corrosivo do fotógrafo José Arimathéa Duayer.  E disse: “Cara, você não vai mais ser fotógrafo, não! Vamos pensar num nome para você!”

Surgia, então, Duayer, o cartunista.

Eu ia sempre pegar o jornal no prédio do “Pasquim”, na Rua da Carioca, 59, onde funcionou a redação de 1984 à 1991.

Dava sempre de cara com uma placa na porta com um aviso inusitado. A frase, escrita na placa, era uma piada do jornalista Aparício Torelly, que fez muito sucesso na imprensa brasileira escrevendo sob a alcunha de Barão de Itararé. 

Aparício foi preso e torturado algumas vezes. Cansado de apanhar, afixou na porta da redação do jornal “A Manha”, onde era editor, uma placa com o seguinte texto: “Entre sem bater”.

Jaguar pegou a placa, depois que “A Manha” fechou, e botou no “Pasquim”.

Um dia, estavamos, eu e Duayer, esperando o velho elevador que levava à redação. O elevador chegou, devagar, rangindo. Era daqueles antigos, com porta pantográfica que não existem mais. Entramos. De repente, ouvimos um grito: “segura o elevador!” Duayer segurou a porta do elevador onde mal cabiam duas pessoas, esperando a pessoa que gritara. 

Eis que surge correndo, todo suado, Luis Rosa, negão de três metros de altura e trezentos quilos. Boy, segurança e ator das fotonovelas. Figura super querida pela turma do jornal.

Duayer, arregalou os olhos, fechou a porta e gritou: “Nem fudendo!”

Duayer era muito louco.

No final da década de 80, publicou pela Codecri o livro “Duayer no País das Maravilhas”. Em 1991, ganhou o prêmio do Salão de Humor do Rio de Janeiro, depois disso, Duayer conheceu a esposa, a especialista em história da arte e também fotógrafa Lourdes Valle, no Jardim Botânico do Rio, e se mandou com ela para Vitoria (ES), onde se dedicou à fotografia.

Mas não abandonou totalmente o desenho. Escreveu e ilustrou três livros infantis.

Agora, de volta ao Rio, está lançando o livro “Salve-se Quem Puder!”. Uma coletânea das fotografias e desenhos que publicou na sua passagem pelo “Pasquim”.

Jaguar foi quem melhor definiu o artista: “O traço do Duayer tem uma característica difícil de encontrar, pois é inconfundível desde o princípio; não se parece com nenhum outro. Seu humor, com idéias brilhantes e inventivas é sombrio. Os leitores riem, mas os personagens nunca; a não ser um riso sádico”. 

Parafraseando Augusto Boal, o humor de Duayer bem que poderia se chamar humor do oprimido. Tem sempre alguém oprimindo alguém em seus cartuns.

Ediel Ribeiro (RJ)

661 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários