Brasil

Moraes pede extradição de ex-assessor acusado de vazar mensagens sigilosas do STF e TSE

Eduardo Tagliaferro, denunciado pela PGR, está na Itália; ele é acusado de violação de sigilo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito

sede STF
Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR. 

Brasília - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou ao Ministério da Justiça a extradição de Eduardo Tagliaferro, seu ex-assessor no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que atualmente vive na Itália. O pedido já foi encaminhado ao Itamaraty, informou a pasta nesta segunda-feira (25).

Tagliaferro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na última sexta-feira (22) pelo vazamento de mensagens sigilosas entre servidores do STF e do TSE que assessoravam Moraes em 2024, período em que o ministro presidia a Corte Eleitoral e comandava a organização das eleições.

A denúncia apresentada pelo procurador-geral Paulo Gonet atribui ao ex-assessor quatro crimes: violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação penal sobre organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Vazamento e exoneração

As mensagens vazadas foram publicadas pela Folha de S. Paulo em agosto de 2024 e tratavam de pedidos de Moraes sobre relatórios relacionados a inquéritos de ataques ao Supremo e disseminação de notícias falsas contra ministros da Corte.

Após a abertura das investigações, Tagliaferro foi exonerado e deixou o Brasil em direção à Itália. Segundo a denúncia, o objetivo do vazamento foi “ferir a credibilidade e colocar em dúvida a imparcialidade do STF e do TSE”.

Em depoimento à Polícia Federal, o ex-assessor alegou que havia entregue seu celular desbloqueado à Polícia Civil de São Paulo, em meio a uma ocorrência de violência doméstica. Para Gonet, no entanto, essa foi mais uma tentativa de atrapalhar a apuração. Mensagens encontradas no aparelho indicam que ele admitiu ter repassado as conversas à imprensa.

Em troca de mensagens com uma mulher identificada como Daniela, Tagliaferro diz ter conversado com repórteres da Folha, afirmando que o jornal estava investigando o ministro Moraes e que ele próprio não seria identificado como fonte.

Entrevista e ameaças

No fim de julho (30), já no exterior, Tagliaferro concedeu entrevista ao blogueiro Allan dos Santos, investigado por ataques ao Supremo. Na ocasião, insinuou que revelaria novos dados sigilosos.

“Tenho bastante coisa”, disse. “Tem algumas coisas fraudulentas que foram feitas”, afirmou, sugerindo que haveria direcionamento de Moraes contra personalidades da direita.

Segundo o PGR, a entrevista e a campanha de arrecadação de recursos lançada por Tagliaferro para financiar futuras revelações fazem parte de uma estratégia alinhada a uma organização criminosa que busca desestabilizar as instituições democráticas.

“O anúncio público recente, em Estado estrangeiro, da intenção de revelar novas informações funcionais sigilosas (…) atende ao propósito da organização criminosa de tentar impedir e restringir o livre exercício do Poder Judiciário”, escreveu Gonet na denúncia.

Eduardo Tagliaferro foi chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE. Sua prisão e eventual extradição agora dependem da tramitação do pedido junto às autoridades italianas.

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