Brasil

Bolsonaro condicionou retirada de tarifas dos EUA à aprovação de anistia, aponta PF

​​​​​​​Investigadores encontraram no celular do ex-presidente um áudio em que ele afirma que só haveria negociação comercial se o Congresso aprovasse anistia a envolvidos na tentativa de golpe

Tânia Rêgo/ABR. 

Brasília - A Polícia Federal (PF) localizou no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro um áudio em que ele atrela a retirada das tarifas impostas pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros à aprovação de uma anistia para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

A mensagem foi enviada ao pastor Silas Malafaia e recuperada em operação de busca e apreensão realizada no mês passado.

“Se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifas (...). Resolveu a anistia, resolveu tudo. Não resolveu, já era”, disse Bolsonaro.

No mesmo diálogo, o ex-presidente afirmou que não pretendia se expor publicamente sobre o tema, alegando manter contatos reservados e que “se der uma de machão, não resolve nada”.

Indiciamentos e investigação

A PF também indiciou Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo. O relatório aponta que Eduardo manteve articulações junto ao governo de Donald Trump para pressionar autoridades americanas contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial Alexandre de Moraes.

O parlamentar está nos Estados Unidos desde março, após pedir licença de 122 dias do mandato. Representações do PT e do PSOL levaram o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), a acionar o Conselho de Ética com pedido de cassação do deputado.

Silas Malafaia alvo de busca e apreensão

Por determinação de Alexandre de Moraes, o pastor Silas Malafaia também foi alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira (20). Ele teve o celular recolhido pela PF no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, Malafaia atuava como “orientador e auxiliar das ações de coação” organizadas por Bolsonaro e seu filho. O pastor está proibido de deixar o país e de manter contato com outros investigados.

Transferências e rascunho de asilo

O relatório da PF também aponta que Jair Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro um dia antes de depor em outra investigação sobre as articulações de Eduardo no exterior. O ex-presidente já havia admitido transferências semelhantes para custear a permanência do filho nos EUA.

Além disso, os investigadores encontraram no aparelho de Bolsonaro um rascunho de pedido de asilo ao presidente argentino, Javier Milei. O documento, com trinta e três páginas, estava sem assinatura ou data e, de acordo com a PF, foi armazenado em 2024.

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