Brasil

Denúncias de abuso infantil na internet disparam 114% após vídeo de influenciador

Marcello Casal Jr / ABR 

Brasília — As denúncias de imagens de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes enviadas à ONG SaferNet mais que dobraram desde a publicação de um vídeo do humorista e influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. No conteúdo, que já ultrapassa 38 milhões de visualizações no YouTube, o criador detalha como criminosos lucram explorando menores em situações sexualizadas.

De acordo com a SaferNet, entre 6 de agosto — data de publicação do vídeo — e a madrugada de terça-feira (12), foram registradas mil seiscentas e cinquenta e uma denúncias únicas no Canal Nacional de Denúncias de Crimes e Violações de Direitos Humanos na Internet, administrado pela ONG. No mesmo período de 2024, haviam sido setecentas e setenta, o que representa aumento de cento e quatorze por cento.

Para efeito de comparação, no primeiro semestre de 2025 o canal recebeu 28.344 denúncias, contra 23.799 no mesmo período do ano anterior, variação de 19% — considerada estável após queda de 26% registrada em 2024. O salto em agosto, portanto, foge à tendência e é atribuído diretamente à repercussão do vídeo.

Efeito imediato

Segundo o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, o fenômeno tem relação direta com a mobilização provocada pelo influenciador.

“Há anos, o tema do abuso sexual infantil online não gerava um debate tão grande na sociedade brasileira e a repercussão do vídeo, obviamente, estimulou as pessoas a denunciar.”

No vídeo, Felca expõe práticas que a SaferNet já vinha denunciando desde 2024: o uso do aplicativo Telegram como canal para distribuição e venda de conteúdo de abuso infantil e o emprego de siglas, acrônimos e emojis para disfarçar a negociação de imagens e o aliciamento de vítimas. Um exemplo é a sigla cp (child porn), encontrada em grupos virtuais e apresentada pelo influenciador como um dos códigos usados por criminosos.

A ONG reforça que evita o termo “pornografia infantil” por entender que ele ameniza a gravidade do crime, que envolve estupro, abuso e exploração sexual. A posse, registro, distribuição ou comercialização dessas imagens perpetua e amplia o sofrimento das vítimas.

Como funciona o canal de denúncias

As denúncias recebidas pela SaferNet são anônimas e passam por um processo de filtragem para eliminar duplicações e reunir informações pertinentes antes de serem encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF), órgão responsável pela análise do mérito e pela abertura de investigações. Técnicos e analistas do MPF verificam se há indícios de crime e, quando necessário, iniciam procedimentos cíveis e criminais.

Sobre a SaferNet

Criada em 2005, a SaferNet completa vinte anos em dezembro. A ONG é referência nacional na promoção dos direitos humanos no ambiente digital e mantém, além do canal de denúncias, o Canal de Ajuda (Helpline) para atendimento a vítimas de violência online e a disciplina Cidadania Digital, voltada à educação para uso seguro da internet. O canal de denúncias da organização é conveniado ao MPF e atua de forma gratuita e sigilosa.

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