Alfabetismo digital ainda é desafio para brasileiros, aponta Inaf 2024
Mesmo entre os mais escolarizados, 40% têm dificuldades em tarefas digitais básicas como compras online e preenchimento de formulários

Brasília (DF) – A nova edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada nesta segunda-feira (5), revelou que o domínio de habilidades digitais ainda é um desafio para grande parte da população brasileira — mesmo entre aqueles com alto nível de escolaridade. O estudo aponta que 40% dos considerados alfabetizados proficientes apresentaram desempenho digital médio ou baixo.
Pela primeira vez, o Inaf incluiu a medição do alfabetismo digital, avaliando como os brasileiros lidam com atividades cotidianas no ambiente online, como realizar compras a partir de anúncios em redes sociais ou preencher formulários de inscrição digital.
O levantamento contou com 2.554 entrevistas com pessoas de 15 a 64 anos em todas as regiões do país, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Os participantes foram divididos em cinco níveis de alfabetismo tradicional: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente. No ambiente digital, foram classificados como de desempenho baixo, médio ou alto.
Os resultados mostram que:
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• 95% dos analfabetos funcionais estão no nível baixo de alfabetismo digital;
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• No nível elementar, 67% têm desempenho médio, enquanto 18% relatam que a tecnologia representa uma barreira;
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• Entre os alfabetizados proficientes, apenas 60% atingem alto desempenho digital. 37% estão no nível médio e 3%, no baixo.
Segundo Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório da Fundação Itaú, os dados são um alerta: “Vamos precisar investir em formações para ampliar o acesso às ferramentas digitais. Hoje, serviços essenciais como Pix, agendamento de consultas, carteira de trabalho e documentos são acessados digitalmente. Quem não domina essas ferramentas, fica à margem até das políticas públicas.”
A pesquisa também revelou que o desempenho digital está diretamente relacionado à faixa etária. Jovens entre 20 e 29 anos apresentam os melhores resultados: 38% estão no nível mais alto, seguidos dos que têm entre 15 e 19 anos (31%).
Para Roberto Catelli, coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, as desigualdades educacionais do país se refletem no mundo digital. “Não basta apostar no letramento digital isolado. As mesmas pessoas com baixa escolaridade são as que têm menor acesso às tecnologias”, afirmou.
O Inaf voltou a ser realizado após seis anos de interrupção. A edição de 2024 foi coordenada pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, com correalização da Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unicef e Unesco. A margem de erro é de dois a três pontos percentuais, com 95% de intervalo de confiança.
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