Governo aposta em parceria com setor privado para desafogar filas no SUS
Objetivo é acelerar diagnósticos e tratamentos especializados, com foco em casos de câncer; rede privada deve suprir lacunas e ajudar a reduzir espera acumulada desde a pandemia

Brasília - O Governo Federal anunciou um novo esforço para enfrentar um dos maiores gargalos do Sistema Único de Saúde (SUS): a longa espera por atendimentos especializados. Em reunião realizada nesta terça-feira (29) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a solução passa, inevitavelmente, por ampliar parcerias com o setor privado.
O foco inicial está no atendimento oncológico, uma das áreas mais sensíveis da rede pública. A legislação brasileira determina que pacientes com suspeita de câncer tenham o diagnóstico confirmado em até 30 dias e, uma vez confirmado, iniciem o tratamento no prazo máximo de 60 dias. No entanto, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, esses prazos frequentemente não são cumpridos, em especial nas regiões Norte e Nordeste.
“Para darmos conta do tempo adequado de atendimento, especialmente nos casos de câncer, só será possível avançar se aproveitarmos a capacidade ociosa existente na rede privada”, declarou Padilha a jornalistas, no Palácio do Planalto. O ministro destacou que essa medida também é resposta ao represamento de atendimentos acumulado durante a pandemia de Covid-19, agravado pela desorganização da rede nos últimos anos.
O Ministério da Saúde, com apoio da Casa Civil, pretende articular a integração de hospitais privados de referência, como o A.C.Camargo Cancer Center, de São Paulo, que já está em tratativas para colaborar com diagnósticos oncológicos de pacientes do SUS. Segundo reportagem da Agência Brasil, a ideia é firmar convênios pontuais que agilizem o acesso aos serviços de média e alta complexidade.
A estratégia está alinhada ao Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), lançado em 2024, que já conta com a adesão de quase 100% dos municípios brasileiros. Em 2025, a iniciativa receberá investimentos de R$ 2,4 bilhões para ampliar a realização de cirurgias eletivas, exames e consultas especializadas nas áreas de oncologia, cardiologia, ortopedia, otorrinolaringologia e oftalmologia. A meta do governo é realizar mais de 1 milhão de cirurgias especializadas por ano até o fim de 2026.
Outro pilar da proposta é o avanço da digitalização da saúde. Com mais de 49 milhões de downloads, o aplicativo Meu SUS Digital reúne dados clínicos do paciente, resultados de exames, histórico vacinal e agenda de atendimentos. A ferramenta já vem sendo utilizada para facilitar o rastreio e o acompanhamento de pacientes que aguardam procedimentos especializados.
Segundo Padilha, o presidente Lula acompanha pessoalmente as discussões e tem “obsessão” com a ideia de garantir atendimento no tempo certo. “Tudo que já vinha sendo planejado está sendo acelerado”, enfatizou.
Especialistas avaliam que a iniciativa pode ajudar a mitigar as desigualdades no acesso a serviços especializados no país, mas alertam para a necessidade de fiscalização rigorosa e contratos transparentes com os prestadores privados para que a lógica pública do SUS não seja comprometida.
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