Brasil

Lula diz que Brics não afronta ninguém e defende uso de moedas locais no comércio internacional

Presidente brasileiro rebate ameaças de Trump, critica ONU e FMI e afirma que bloco representa nova ordem global em construção

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Joédson Alves / ABR - 

Rio de Janeiro - Ao encerrar a 17ª Cúpula de Líderes do Brics, nesta segunda-feira (7), no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o grupo não foi criado para “afrontar ninguém”, mas sim para propor uma nova forma de fazer política global, mais solidária e multipolar.

“O Brics, que não nasceu para afrontar ninguém, é apenas um outro modelo, um outro modo de fazer política, uma coisa mais solidária”, disse Lula a jornalistas.

A declaração acontece em meio a crescentes tensões com os Estados Unidos, após o presidente Donald Trump ameaçar aplicar tarifas de 10% a países que se alinharem ao grupo. Lula minimizou o episódio, afirmando que o tema nem foi mencionado durante os dois dias de cúpula e classificou a postura de Trump como “irresponsável”.

“Sinceramente, eu nem acho que eu deveria comentar, porque não é uma coisa séria o presidente de um país do tamanho dos Estados Unidos ameaçar o mundo pela internet”, afirmou.

Segundo Lula, os países do Brics — que hoje somam 11 membros e 10 parceiros — são soberanos e devem se relacionar com base em respeito mútuo. “Cada país é dono do seu nariz”, disse. “Se houver tarifas, há o princípio da reciprocidade.”

Defesa da soberania e críticas à ordem global

Durante a cúpula, Lula voltou a defender o multilateralismo e criticou a atual estrutura de governança global. Ele citou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Conselho de Segurança da ONU como instituições que perpetuam desigualdades e falham em oferecer soluções efetivas para os conflitos contemporâneos.

“Não é para emprestar dinheiro e levar os países à falência”, afirmou, ao criticar as exigências de austeridade do FMI.
“Quem é que negocia a paz? A ONU perdeu autoridade porque ninguém pede licença para fazer guerra”, acrescentou, ao citar conflitos no Iraque, na Líbia, na Ucrânia e a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza.

A declaração final do Brics reforçou o apoio à reforma do Conselho de Segurança da ONU, com apoio explícito da China e da Rússia às aspirações do Brasil e da Índia para obterem cadeiras permanentes.

Moedas locais: "um caminho sem volta"

Um dos temas centrais da cúpula foi o uso de moedas locais nas transações comerciais entre os países-membros, em alternativa ao dólar americano. Lula afirmou que a mudança será gradual, mas inevitável.

“É muito difícil mudar hábitos de décadas, mas o mundo precisa encontrar um jeito de que nossas relações comerciais não precisem passar pelo dólar”, defendeu.
“É uma coisa que não tem volta. Vai acontecendo aos poucos até que seja consolidado.”

Lula destacou que a adoção de moedas locais depende de articulação entre os bancos centrais, com cautela e responsabilidade.

Bloco em expansão

Atualmente, o Brics reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Indonésia, representando cerca de 39% do PIB global e quase metade da população mundial. Outros dez países atuam como parceiros, como Cuba, Bolívia, Vietnã e Nigéria, mas sem direito a voto.

O presidente brasileiro, que exerce em 2025 a presidência rotativa do Brics, destacou que o grupo está aberto à entrada de novos membros. “O Brics é uma metamorfose ambulante”, disse, ao citar Raul Seixas.

Reação à fala sobre Bolsonaro

Questionado sobre as declarações de Trump em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula foi direto:

“Esse país tem leis, tem regras e tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, deem palpite na sua vida e não na nossa.”

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