Exportações para a China crescem e compensam impacto do tarifaço dos EUA
Avanço das vendas ao mercado chinês neutraliza queda nas exportações brasileiras para os Estados Unidos, aponta estudo da FGV
O aumento das exportações brasileiras para a China foi decisivo para compensar as perdas provocadas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos, em vigor desde agosto, que aplicou sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros. A constatação é do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre agosto e novembro, o valor das exportações brasileiras destinadas à China cresceu 28,6% em relação ao mesmo período de 2024. No sentido oposto, as vendas para os Estados Unidos recuaram 25,1%. O comportamento se repete no volume exportado: alta de 30% para o mercado chinês e queda de 23,5% para o mercado americano.
Segundo o estudo, a diferença entre a variação em valor e em volume está relacionada aos preços dos produtos exportados, além da composição da pauta comercial.
A China segue como principal parceiro comercial do Brasil, absorvendo cerca de 30% das exportações nacionais, à frente dos Estados Unidos. Para o Icomex, esse peso foi fundamental para amortecer os efeitos do tarifaço norte-americano.
“Trump superestimou a capacidade dos Estados Unidos em provocar danos gerais às exportações brasileiras”, afirma o relatório.
Setores mais afetados pelo tarifaço
Os segmentos que registraram as maiores quedas nas exportações para os Estados Unidos, no período de agosto a novembro, foram:
-
Extração de minerais não metálicos: -72,9%
-
Fabricação de bebidas: -65,7%
-
Fabricação de produtos do fumo: -65,7%
-
Extração de minerais metálicos: -65,3%
-
Produção florestal: -60,2%
-
Produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos): -51,2%
-
Produtos de madeira: -49,4%
Mudança de rota ao longo do ano
O levantamento da FGV mostra que, antes da entrada em vigor do tarifaço, as exportações para os Estados Unidos vinham em trajetória de crescimento. A reversão ocorreu a partir de agosto.
Variação do volume exportado para os EUA em 2025 (comparação com 2024):
-
Abril: +13,3%
-
Maio: +9%
-
Junho: +8,5%
-
Julho: +6,7%
-
Agosto: -12,7%
-
Setembro: -16,6%
-
Outubro: -35,3%
-
Novembro: -28%
Já as exportações para a China aceleraram fortemente no segundo semestre:
-
Abril: +6,4%
-
Maio: +8,1%
-
Junho: +10,3%
-
Julho: -0,3%
-
Agosto: +32,7%
-
Setembro: +15,2%
-
Outubro: +32,7%
-
Novembro: +42,8%
A pesquisadora Lia Valls, associada do Ibre/FGV, destaca que o aumento dos embarques de soja, concentrados no segundo semestre, ajudou a impulsionar as exportações para a China.
“Na hora que está caindo a exportação para os Estados Unidos, foi o momento que começou a aumentar mais a exportação para a China, com impacto direto na exportação global do país”, explicou.
No acumulado de janeiro a novembro, as exportações totais do Brasil cresceram 4,3% em relação ao mesmo período de 2024.
Desempenho da Argentina
O Icomex também analisou as exportações para a Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Entre agosto e novembro, as vendas para o país cresceram 5% em valor e 7,8% em volume.
Apesar do resultado positivo, Lia Valls avalia que o impacto argentino é limitado.
“A participação da Argentina na pauta brasileira é muito pequena. A Argentina é muito focada na exportação de automóveis, e o Brasil praticamente não exporta automóveis para os Estados Unidos”, afirmou.
Entenda o tarifaço
O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou em vigor em agosto de 2025. Além do discurso de proteção à indústria americana, Trump chegou a afirmar que as tarifas aplicadas ao Brasil também tinham caráter de retaliação política, em razão do tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, posteriormente condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Desde então, os governos do Brasil e dos Estados Unidos mantêm negociações para reduzir os impactos das medidas. No último dia 20, Trump retirou uma sobretaxa adicional de 40% sobre 269 produtos, sendo 249 do setor agropecuário, como carnes e café.
Segundo o Icomex, os efeitos dessa decisão só devem aparecer nos dados de dezembro e janeiro. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, estima que 22% das exportações brasileiras para os EUA ainda seguem sujeitas às sobretaxas.
Comentários