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Samba, memória e poesia: Adoniran Barbosa é lembrado em evento especial nesta quarta (6)

Evento gratuito na Galeria do Rock celebra legado do compositor com show, curta e exposição

adoniran Barbosa
Divulgação/Pandora Filmes - 

São Paulo - O cantor e compositor Adoniran Barbosa completaria 115 anos nesta quarta-feira (6). Para celebrar o legado de um dos maiores nomes da música brasileira, a Galeria do Rock, no centro de São Paulo, promove uma homenagem especial com pocket show da cantora Marcia Mah e exibição do curta-metragem Saudosa Floresta, em comemoração aos 70 anos da canção Saudosa Maloca.

O evento será gratuito e acontece a partir das 18h, no Espaço Arena Galeria. Haverá ainda uma pequena exposição com objetos pessoais do artista, pertencentes ao acervo do produtor cultural Cassio Pardinio.

A animação Saudosa Floresta narra a trajetória de João Rubinato — o próprio Adoniran — ao lado da ave Sabiá Laranjeira, símbolo da biodiversidade brasileira. O curta, com tom poético e crítica ambiental, foi realizado por Marcia Mah, o cartunista Barão do Pirapora, o filmmaker Juca Mencacci, o músico Luiz Anthony, Maurício Nogueira e o ator Alexandre Franklin.

Vida e obra

João Rubinato nasceu em Valinhos (SP), em 6 de agosto de 1910, filho de imigrantes italianos. Ainda jovem, deixou os estudos e trabalhou como tecelão, garçom e balconista. A carreira artística começou aos 22 anos, quando passou a participar de programas de calouros em rádios paulistanas. Em 1941, foi contratado pela Rádio Record como ator e locutor, onde conheceu o grupo Demônios da Garoa — seus principais intérpretes.

Por considerar seu nome inadequado para a carreira artística, adotou o pseudônimo Adoniran (em homenagem a um amigo) e o sobrenome Barbosa (inspirado no sambista Luiz Barbosa). O novo nome marcou o nascimento do compositor que retratou o cotidiano da classe trabalhadora paulistana com humor, melancolia e crítica social.

Entre seus maiores sucessos estão Trem das Onze, Samba do Arnesto e Tiro ao Álvaro, músicas que consagraram sua linguagem coloquial e cheia de brasilidade. Adoniran usava erros de português propositais, como “nós fumo” e “nós vortemo”, para aproximar-se do povo e reproduzir a fala do trabalhador urbano.

Em Tiro ao Álvaro, por exemplo, o jogo de palavras revela um apaixonado que é o “alvo” dos olhares fatais da moça: “Teu olhar mata mais do que bala de revorver”. Já em Saudosa Maloca, os versos “cada tauba que caía, doía no coração” denunciam com lirismo a dor dos sem-teto diante da demolição de sua moradia.

A linguagem popular de Adoniran chegou a ser censurada durante a ditadura. A canção Samba do Arnesto foi inicialmente proibida com a justificativa de “uso do mau vernáculo”. A música só seria liberada no segundo disco do artista, lançado em 1975.

Legado

Adoniran faleceu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos, vítima de enfisema pulmonar. Foi sepultado no Cemitério da Paz, em São Paulo. Ainda hoje, sua obra continua presente na cultura brasileira, representando com autenticidade as vozes e dores da periferia paulistana.

Nesta quarta, a homenagem na Galeria do Rock reforça o papel de Adoniran Barbosa como cronista da cidade, do samba e do povo.

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