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Carla Zambelli deixa o Brasil após condenação no STF e anuncia afastamento do cargo

Deputada do PL-SP se exila na Europa após ser condenada a 10 anos de prisão e promete seguir “denunciando desmandos” fora do país. Condenação envolve invasão ao sistema do CNJ com auxílio de hacker.

Carla Zambelli após a leitura do relatório final da cpi dos atos golpistas. Foto: Lula Marques / ABR - 

Brasília - A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o Brasil e fixou residência na Europa, cerca de duas semanas após ser condenada a 10 anos e 8 meses de prisão pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A parlamentar foi sentenciada pelos crimes de invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o auxílio do hacker Walter Delgatti, e falsidade ideológica.

Durante entrevista ao canal AuriVerde, no YouTube, na manhã desta terça-feira (3), Zambelli afirmou que está fora do país “há alguns dias” e que pretende pedir afastamento sem remuneração do cargo, que será ocupado por seu suplente, Coronel Tadeu (PL-SP). A deputada não revelou em qual país está, mas justificou a escolha da Europa por já possuir cidadania italiana, o que impediria sua extradição.

“Estou fora do Brasil já faz alguns dias. A princípio, vim em busca de um tratamento médico que eu já fazia aqui”, comentou Zambelli.

A condenação da parlamentar também prevê a perda do mandato, a ser efetivada após o trânsito em julgado da decisão. Ela e Delgatti foram sentenciados ao pagamento de R$ 2 milhões por danos morais coletivos.

Zambelli atribuiu sua saída do país à condenação e criticou o STF, referindo-se ao caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

“Eu poderia ir para a prisão, esperar [passar] um tempo e continuar no meu país. Me entregar para a Justiça. Mas que Justiça é essa que prende a Débora por 14 anos e que quer me prender por 15 anos?”, questionou.

Além da atual condenação, a deputada responde a outro processo criminal no STF por ter sacado uma arma de fogo em via pública e perseguido o jornalista Luan Araújo, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022. O caso foi citado por ela na mesma entrevista:

“Minha vida se transformou em um inferno astral. Depois daquilo, minha vida virou de ponta cabeça”, comentou Zambelli, dizendo-se certa de sua conduta. “Qualquer mulher, na minha situação, ao ouvir o barulho de um tiro e temendo pela segurança do seu filho, teria feito o mesmo que fiz.”

Zambelli ainda comparou sua mudança com a do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também se licenciou do cargo para viver nos Estados Unidos com a justificativa de denunciar uma suposta “ditadura” no Brasil. Eduardo é investigado pelo STF por coação e obstrução de investigação, após pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

“Gostaria de deixar bem claro que não é um abandono do país. Nem desistir da minha luta. Muito pelo contrário. É resistir. É poder continuar falando o que quero. Voltar a ser a Carla que eu era antes das amarras que esta ditadura nos impôs”, argumentou Zambelli.

A deputada afirmou ainda que suas redes sociais serão administradas pela mãe, por temer perdê-las em decorrência de processos judiciais. Ela pediu que seus seguidores continuem acompanhando as postagens.

Por fim, sem apresentar provas, Zambelli voltou a questionar o sistema eleitoral brasileiro, afirmando que as urnas eletrônicas “não são confiáveis” e que as eleições só seriam legítimas com voto impresso e contagem pública. A parlamentar também dirigiu críticas diretas a ministros do STF.

“Não dá para acreditar em pesquisas no nosso país. Elas são manipuladas. E não dá para acreditarmos em urnas eletrônicas, que não são confiáveis”, declarou.

A decisão que condenou Zambelli foi tomada por unanimidade pela Primeira Turma do STF no dia 14 de maio de 2025. O caso ganhou destaque pela atuação do hacker Walter Delgatti, que ficou conhecido anteriormente por invadir mensagens de autoridades na chamada “Vaza Jato”.

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